ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Lost Lost Lost: memória, poesia e subjetividade |
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Autor | Priscyla Bettim |
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Resumo Expandido | Lost Lost Lost é o terceiro grande filme diário de Jonas Mekas, finalizado no ano de 1975, e conta com imagens captadas entre 1949 e 1963. O filme versa sobre o início da trajetória de Jonas Mekas nos Estados Unidos, sua adaptação (ou a falta desta / a dificuldade no processo) em um outro país, o início de seu envolvimento com o cinema independente, chegando até o seu amadurecimento como cineasta.
As imagens iniciais de Lost Lost Lost são diferentes esteticamente das imagens que nos deparamos em Walden, nas quais estão presentes as conhecidas características mais “experimentais” do cinema do autor. Mas aos poucos essa estética vai mudando, o quadro estático vai se movimentando mais, se fragmentando mais, o ritmo do filme fica mais veloz, e se torna cada vez mais experimental, cada vez mais sensitivo. Mekas filma a comunidade lituana às vezes como se tentasse encontrar seu país, sua família, suas lembranças, ou mais que isso, de registrar e preservar essas lembranças, através de imagens de festividades, casamentos, apresentações de danças típicas; como se estivesse criando registros familiares, “home movies”. Porém quando Mekas abandona a comunidade lituana, vai para Manhattan, e se envolve com o New American Cinema, as questões mais ligadas a sua terra natal são colocadas de lado, para então se dedicar ao novo cinema que estava ajudando a construir. Então novamente tudo é registrado: o surgimento da Film Culture, a convivência com os cineastas undergrounds, as dificuldades enfrentadas por eles, etc. Mekas estaria então registrando imagens de sua nova “família”. Entre as primeiras imagens captadas e a sua finalização, há um espaço de tempo de mais de vinte e cinco anos (49/75), e as imagens abrangem um período de treze anos em três horas de filme, organizadas em ordem cronológica. Ao narrar/montar o filme tanto tempo depois, Mekas emprega as imagens registradas como ponto de partida, mas misturando-as com as impressões e sentimentos do presente, do momento em que ele as revisita. A voz de Mekas, ao narrar o filme, sofre uma série de mudanças de tom, pausas e hesitações, reações às imagens revistas. Há então o encontro de dois tempos: o passado, nos registros imagéticos; e o presente, na narração e articulação das imagens. A montagem/narração acabam funcionando como um prolongamento da experiência vivida por Mekas. Ao assistir as imagens para fazer a narração do filme, Mekas frequentemente afirma “I was there” como se buscasse reafirmar para si mesmo e para o público sua vivência dos fatos registrados e ao mesmo tempo, “I was there” evidencia a distância do tempo passado e do presente, relembrando os espectadores que o filme é organizado por memórias. No cinema de Mekas há uma fusão entre o não-ficcional e a poesia, o documentário e o experimental, o cinema e a literatura, e Renov iria apontar que seus filmes estariam mais próximos ao gênero ensaístico, ou “o ensaio documental”, pois a conexão entre as imagens do filme provêm da narração do autor, caracterizada por digressões, fragmentações, repetições e distorções. Mekas faz uma descrição do real histórico, filtrado através de um fluxo de subjetividade e memória. Em documentários calcados na memória, o “fato” se mistura com as impressões pessoais da testemunha que o vivenciou, porém, apesar de haver um interesse histórico-social, pois o filme não deixa de representar traços de uma determinada sociedade em uma época específica, há de se levar em consideração importância do processo de análise e reação de uma pessoa diante de suas lembranças. Como já foi citado, o filme caminha para o que seria o amadurecimento estético do cinema de Mekas, e esse amadurecimento nos é mostrado como um tipo de elevação espiritual, algo transcendental onde há uma purificação da forma fílmica. Podemos perceber em Mekas um olhar romântico no fato encarar a evolução de sua linguagem estética como um caminho para se chegar a uma forma mais pura de arte, de se chegar a poesia. |
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Bibliografia | CHODOROV, Pip. The Lost Lost Lost Book. Paris: Paris Expérimental, 2000.
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