ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A representação da Segunda Guerra em comédias de Luiz de Barros. |
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Autor | Evandro Gianasi Vasconcellos |
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Resumo Expandido | Este trabalho visa estudar a representação do contexto da Segunda Guerra Mundial em revistas teatrais encenadas no Rio de Janeiro, a partir do momento em que se efetiva a participação do país no conflito, relacionando com a forma em que o mesmo tema aparece em algumas comédias cinematográficas realizadas por Luiz de Barros no mesmo período.
Este estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla que se propõe a analisar o diálogo entre o cinema e o teatro de revista através de comédias musicais carnavalescas realizadas por Luiz de Barros na década de 1940, com a produção da Cinédia. A relação se torna instigante uma vez que o diretor teve intenso contato com o teatro de revista nas décadas de 1920 e 1930, inclusive tendo montado algumas companhias. O teatro de revista tinha como uma de suas principais características a abordagem de assuntos atuais, sempre através do humor e da sátira. Sendo assim, com a entrada do país na guerra, em 1942, o tema aparecerá em vários espetáculos, como se percebe em títulos como Fora do Eixo (1942), Rumo a Berlim (1942), Marcha soldado (1942) e Rei Momo na guerra (1943). No entanto, as revistas da década de 1940, em sua grande maioria, não mais possuíam uma estrutura narrativa consistente e se constituíam de “uma sequência de números de cortina, esquetes e quadros de fantasia” (VENEZIANO, 1991, p. 31). A ênfase estava no visual, com coreografias elaboradas e cenários deslumbrantes. Nesse período destacava-se a Companhia de Walter Pinto. Sendo assim, nesse tipo de espetáculo a guerra aparecia em alguns momentos, mas não como uma temática que ligasse toda a revista. Há, então, quadros de comédia com sátiras aos líderes europeus, geralmente com o recurso da “caricatura viva” (VENEZIANO, 1991, p. 135), ou seja, com atores imitando no palco figuras como Hitler e Mussolini. Mas também, através do patriotismo, incentivado pelo governo de Getúlio Vargas. O elogio e exaltação dos soldados da FAB, após a declaração de guerra, por exemplo, aparece em apoteoses, momento máximo da revista. Em 1943 a Cinédia lança nos cinemas o filme Samba em Berlim, uma comédia pautada nos números musicais, com artistas conhecidos do grande público, e no humor típico do teatro de revista. Assim como em muitas revistas teatrais, a referência à guerra se encontra logo no título, mas é pouco desenvolvida no filme. Porém a sátira ao nazismo aparece através de paródias musicais e em um número com a vedete Virgínia Lane. O patriotismo também é evidente no final do filme com os protagonistas se alistando no exército, seguido de um desfile de tanques de guerra. Esta cena, embora muito diferente dos números luxuosamente elaborados por Walter Pinto, remete às apoteoses ufanistas do teatro de revista, como, por exemplo, em Rumo a Berlim, onde também havia um tanque, construído no palco. Em Berlim na batucada (1944) a Cinédia repete a dose em mais uma comédia com artistas de renome, como Francisco Alves e o Trio de Ouro, na parte musical. Novamente fazendo referência ao conflito no título, o filme apresentava um esquete com o humorista radiofônico Ivo de Freitas interpretando Hitler e se autointitulando o maior palhaço do mundo. Um tipo de quadro muito semelhante à linguagem e a forma de abordagem no teatro de revista. O filme remete, também, à política da boa vizinhança praticada pelos Estados Unidos da América, por intermédio de um personagem americano que vem ao país a procura de artistas brasileiros para levar à Hollywood, em uma clara alusão à experiência de Orson Welles no Brasil. Por meio da análise desses filmes pretende-se, então, apontar este intenso diálogo na forma de representação da guerra entre as comédias cinematográficas e o teatro de revista, através da utilização de elementos como a paródia, a sátira e o patriotismo. |
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Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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