ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | À SOMBRA DOS AUTEURS: A NOÇÃO DE AUTORIA NO MAKING OF |
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Autor | Patricia de Oliveira Iuva |
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Resumo Expandido | O cinema enquanto arte e meio de criação/exploração do mundo nos é dado através de inúmeros produtos audiovisuais, desde o próprio filme, até trailers, entrevistas, spots, teasers, etc. Para além da esfera artística que recobre o cinema (e o filme enquanto obra de arte), me atento para as modificações tecnológicas e para as relações comerciais de elaboração/distribuição dos audiovisuais extra-fílmicos. Jonathan Gray (2010), em seu livro Show Sold Separately: Promos, Spoilers, and Other Media Paratexts, discute extensivamente o papel desempenhado pelos produtos extra-fílmicos, os quais são, de acordo com o autor, frequentemente desvalorizados enquanto objetos artísticos, uma vez que operam em função da indústria cultural. Gray (2010) busca ir além da simples constatação de que os paratextos servem os propósitos do consumo industrial, problematizando outros aspectos como valor autoral, valor artístico e autenticidade. A partir disso, trago como objeto empírico para discussão os making ofs documentários, contemplando-os na condição de produtos audiovisuais extras (materiais especiais e/ou bônus) de Edições especiais de DVD/Blu-ray. Considero de extrema relevância pensar o objeto nesta condição, a qual relaciona uma questão tecnológica que influencia e possibilita a profusão deste tipo de produto, o qual, por sua vez, altera a experiência cinematográfica dos espectadores com o filme, amplificando a teia de significados e leituras possíveis –seja no nível do roteiro e da narrativa fílmica, quanto no nível técnico de montagem, som e visual estético da obra. Nesse sentido, pensar as transformações da experiência fílmica pelo making of representa a inserção do espectador no próprio processo de construção e reconstrução da produção e, ao mesmo tempo, envolve um elemento de reflexividade da obra por parte do campo cinematográfico.
Considerando o making of enquanto um meta-texto, um produto reflexivo, tem-se uma espécie de análise do próprio processo de produção cinematográfico do respectivo filme, sobre seus princípios, seus próprios pressupostos, reconstruindo e reconfigurando seus sentidos. Diante dessa premissa, propõe-se, portanto, desvelar o que se pode inferir sobre autoria no cinema a partir das fronteiras que se estabelecem entre o making of e a produção cinematográfica. Para tanto, há que se considerar a influência das circunstâncias do contexto produtivo sobre o projeto criador dos artistas (diretor-realizador do making of e diretor-auteur do filme)– que engloba habilidades adquiridas, decisões tomadas e caminhos trilhados consciente e inconscientemente e, por fim, sobre a constituição de arranjos peculiares. Isso acontece não somente sobre o filme, mas também, especialmente, com o making of, quando o mesmo, por exemplo, é realizado durante a produção do filme ou anos após o lançamento do mesmo e por um diretor-realizador que estabelece uma relação próxima com o diretor-auteur da película. Ressalto que existe a preocupação com a elucidação dos efeitos e princípios constitutivos e determinantes das obras, o filme e o making of, contemplando a dimensão autoral na composição visual e narrativa da obra bem como análise do contexto e condições de produção das mesmas. Pois, tanto o realizador quanto o contexto de produção em que ele está inserido são fontes de construção e efeitos da obra, de modo que as escolhas dos criadores refletem e/ou são reflexo disso. O objetivo do trabalho é, portanto, compreender a relação entre duas instâncias autorais: a do diretor-realizador do making of e a do diretor-auteur do filme, buscando problematizar a noção e a construção de autoria no cinema hollywoodiano, enunciado pelos making ofs documentários. Para isso serão analisados os making ofs: The beast within – the making of Alien (2003, de Charles de Lauzirika) – making of do filme Alien (filme de 1979, de Ridley Scott) e The Making of Steven Spielberg's Jaws (1995, de Laurent Bouzereau) -making of do filme Tubarão (1975, de Stevem Spielberg). |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2012.
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