ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Linhas de fuga: as metrópoles latinas no cinema contemporâneo |
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Autor | Ana Ângela Farias Gomes |
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Resumo Expandido | A produção de sentido sobre meio ambiente a partir da noção de urbano enquanto conceito espacial é o foco deste trabalho. Nesse contexto, nosso objeto é o cinema contemporâneo produzido no Brasil e na Argentina.
Filmes recentes como "Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual" (Gustavo Taretto, 2011) e "O Som ao Redor" (Kleber Mendonça, 2012) estabelecem uma construção rizomática sobre a noção de urbano. Para Deleuze e Guattari (1995), o rizoma mostra que a produção do conhecimento se dá ao mesmo tempo a partir de diversos pontos e sob a influência de diferentes observações e conceitualizações. Uma estrutura rizomática é aberta, receptora de diversas influências, flexível e instável, negadora de linhas de subordinação hierárquica. Nesse sentido, o cinema latino contemporâneo encarrega-se de falar sobre uma urbanidade erguida sob a égide de um projeto “moderno” de organização e vivência social, mas marcado pelo fracasso desse mesmo projeto, que antes de qualquer coisa institui uma diferenciação entre homem e natureza. O espaço diz respeito à territorialidade do objeto, o lugar onde ele se manifesta, e as marcas desse lugar deixadas no objeto. No caso desta pesquisa, trata-se, pois, das grandes metrópoles latinas, que cada vez mais se assemelham (fragilizam singularidades), tendo em vista a assimilação acrítica de certa ideia de “desenvolvimento”, ou pior, “desenvolvimento sustentável”. “O capitalismo é sistema político-religioso cujo princípio consiste em tirar das pessoas o que elas têm e fazê-las desejá-las o que não têm – sempre. Outro nome desse princípio é “desenvolvimento econômico”. (...) A noção recente de “desenvolvimento sustentável” é, no fundo, apenas um modo de tornar sustentável a noção de desenvolvimento. (VIVEIROS DE CASTRO, 2007, s/p) Este trabalho trata, pois, de um cinema capaz de trazer à tona essa crítica, propositor de uma mediação com a cidade de modo a mostrar suas desordens sócio-ambientais. Um cinema onde a cidade, mesmo que em alguns momentos resumida a uma única rua – caso de "O Som ao Redor" – atua com a potência de um personagem na construção narrativa. Em "Medianeras", a gigantesca Buenos Aires apresenta-se uma cidade incapaz de garantir a seus moradores espaços amplos de vivência. As moradias são cada vez mais minúsculas, apertadas, claustrofóbicas. Não por acaso, a exiguidade do espaço-moradia relaciona-se diretamente à redução do verde das árvores. A natureza em “estado bruto” vai sendo substituída por prédios, muitos prédios. Mesmo assim, esse verde se faz capaz de traçar linhas de fuga (Deleuze e Guattari, 1995) e nasce de modo estranho, em meio ao próprio concreto. As próprias medianeras, proibidas nas regras oficiais da cidade argentina, surgem a partir dos próprios moradores, como um modo de construir outros espaços de “circulação de ar” e, ao mesmo tempo, de possibilidades de encontros. A cidade que vai limitando o espaço de vivência é a mesma cujos indivíduos resistem e constroem alternativas para o encontro e o afeto. A solidão que insiste, mesmo em cidades de milhões de habitantes como Recife e Buenos Aires, e o consumo e a tecnologia como forma de fuga e/ou transgressão dessa situação, é uma realidade nas duas obras. Da mesma forma, os medos e as paranoias urbanas encontram-se presentes no cotidiano dos personagens. Vale questionar, nessa disposição do cinema contemporâneo em fazer emergir a realidade das grandes cidades latinas, o que padroniza e o que singulariza nessa representação sobre a nossa cultura urbana. Recife e Buenos Aires, capturadas no reverso de um paisagismo grandioso, encontram no cinema uma mediação privilegiada. Diante disso, de que cidades falam esses filmes? |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia – Volume 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995 (Coleção TRANS).
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