ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Extremamente Volátil: estilo e Stimmung no piloto de Breaking Bad |
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Autor | João Eduardo Silva de Araújo |
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Resumo Expandido | Esta apresentação objetiva observar como a atmosfera do seriado televisivo Breaking Bad é estabelecida no piloto do produto, a partir de um exame dos modos pelos quais este episódio configura seus aspectos estilísticos. Para tal, recorremos à discussão empreendida por Bordwell (2008, 2013) acerca do estilo cinematográfico, relacionando-a aos debates posteriormente explorados por Aumont (2008) em torno do mesmo tema. Finalmente, nos aproximamos de Butler (2009), autor que tenta adequar as contribuições de Bordwell ao estudo da televisão. Vale pontuar ainda que apesar de reconhecermos a importância de pesquisadores como Fiske (1987) e Caldwell (1995) para a análise do estilo televisivo, entendemos que suas teorizações - que pensam o estilo do meio respectivamente como "empoderador" ou "excessivo" - são datadas, e deste modo não são de grande contribuição para nosso objetivo.
A atmosfera, por sua vez, aqui é entendida num dos sentidos que a estética alemã dá a Stimmung, palavra que infelizmente não pode ser adequadamente traduzida para outros idiomas. Conforme Gumbrecht, além de suas outras acepções, o termo também pode ser compreendido "no sentido mais objetivo de 'clima' (...). Pensemos em Morte em Veneza, de Thomas Mann. Nenhum leitor lembra-se desta novela porque ele ou ela se surpreendeu em descobrir que Aschenbach e Tadzio não se tornariam amantes no final, ou que Aschenbach estava, de fato, destinado a morrer. Antes, é a evocação da Stimmung fin de siècle de decadência em toda sua complexidade e suas nuances, é a evocação de cheiros, cores, barulhos, e, acima de tudo, do clima em constante mudança que tornou este texto famoso" (2009, p. 107-108). Assim, o nosso interesse é o de observar como os elementos estilísticos de Breaking Bad, sejam eles visuais (escala de planos, angulação, movimentos de câmera, e edição), sonoros (música, som, e diálogos), ou cênicos (atuações, cenários, iluminação, e figurinos), se articulam internamente no piloto do seriado para construir um Stimmung particular para a série. Stimmung que cremos ser ambivalente, volátil, abalizado de um lado pelo desolamento, a aridez, e a introspecção da região fronteiriça onde a narrativa é ambientada, e do outro pela construção pop e ágil do universo relacionado ao tráfico de drogas. Para observar a construção dessa dupla atmosfera, também seguimos a intuição de Aumont, para quem é importante à análise estilística a observação do diálogo entre diferentes mídias. Tal intuição, em outro lugar, parece também corroborada por Bordwell, para quem a história do cinema deveria ser colocada no contexto mais amplo da história da arte (1972). Assim, analisamos ainda como a aproximação estilística do piloto de Breaking Bad dialoga com as fotografias feitas por William Eggleston nos anos 60 e 70 no árido sudoeste rural dos Estados Unidos; bem como com as obras do também fotógrafo Lee Friedlander, especialmente as realizadas em Albuquerque, Novo México, cidade na qual a trama do seriado se desenrola. Além disso, observamos ainda as conexões do seriado com a renovação do oeste americano operada por filmes como Paris, Texas (1984), que atualizam a cenografia urbana da região, classicamente associada ao gênero do Western. Vale pontuar que aqui a questão não é aproximar o seriado de outras formas expressivas para legitimá-lo enquanto produto cultural. Não se trata de cair na armadilha de certo segmento da crítica que pauta o discurso sobre a qualidade na televisão a partir de uma aproximação com o cinema. Ao contrário, o que buscamos é observar as matrizes estilísticas do piloto de Breaking Bad, ou seja, os modos como o estilo do seriado se insere em uma tradição cultural mais ampla, que pode ser traçada mesmo às pinturas de Thomas Cole, fundador da Escola do Rio Hudson, cuja obra é marcada pelos extensos e opressores cenários selvagens circundando alguns elementos urbanos, em geral decadentes. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto & Grafia, 2008.
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