ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O estatuto do pensamento em Filme Socialismo e Histoire du Cinema |
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Autor | Carlos Alberto Salim Leal |
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Resumo Expandido | Buscaremos na presente comunicação estabelecer alguns apontamentos acerca do último filme de Jean-Luc Godard, Filme Socialismo (França, 2010), e compará-lo com Histoire du Cinema (França, 1989-1998), do mesmo autor, centrando-nos em pontos comuns associados ao tipo de reflexão que estabelecem em relação à contemporaneidade. Em especial, buscaremos nos ater ao problema das imagens como modalidade de reflexão e ao tipo de sentido singular que as mesmas podem produzir como forma de interpretação do mundo. Assim, tentaremos localizar Filme Socialismo na produção recente de Godard, buscando entender como esta se situa na continuidade de uma problemática que se explicita a partir de Histoire du Cinema. A evolução de sua reflexão acerca das condições de representação do mundo contemporâneo nos leva a um tensionamento das fronteiras entre ficção e documentação e abre espaço para discutirmos a noção de “filme ensaio” que vem sendo utilizada para pensar a obra de Godard (entre outras) no período que buscamos abordar. Um mapeamento dos procedimentos pelos quais o audiovisual busca se constituir como “forma de pensamento” e seus vínculos com diversas formas de documentação que permearam a história do cinema se apresenta, assim, como problema.
Histoire du Cinema, como sabemos, é comumente pensado como momento de explicitação da noção de ensaio audiovisual na obra de Godard. Isso porque a série estabelece uma associação entre a História entendida enquanto disciplina de estudo das transformações da sociabilidade (em especial a história do século XX), a história especifica do cinema e as histórias que esse cinema conta. As imagens constituem-se assim como matéria-prima para a explicitação dessa vinculação que assume um caráter paradoxal. Por um lado, o que foi a história do século XX e, por outro, o que o cinema contou e o que “deixou de contar dessa história” ao se preocupar em construir suas próprias histórias (entendidas agora como “narrativas”, prioritariamente de sentido ficcional. Enfatizar a singularidade deste método de composição nos parece importante, na medida em que terá desdobramentos para a obra recente de Godard, em especial Filme Socialismo, que analisaremos de maneira mais detalhada. Este procedimento confere um caráter alegórico a estas imagens e nos permite uma aproximação com a noção de “imagem dialética”, como formulada por Walter Benjamin. A alegoria, ao retirar um signo de sua cadeia de significação original e inserir uma ruptura na cadeia causal do processo de significação, permite uma construção semântica na qual uma ideia ou valor, de ordem abstrata, ganha uma existência tangível. Tanto do ponto de vista expressivo-formal como do ponto de vista dos conteúdos abordados, acreditamos que existe uma continuidade em Filme Socialismo dos temas apresentados em Histoire du Cinema. Do ponto de vista expressivo-formal, a reflexão acerca dos regimes escópicos e do sentido e significado das imagens prossegue. Se em Histoire du Cinema apontamos as múltiplas associações entre cinema hollywoodiano, as atualidades e os recursos do vídeo como mecanismo de reelaboração das imagens, Filme Socialismo enfrenta um momento posterior do problema da produção e significação social das imagens. Temos agora a profusão em escala planetária das tecnologias de difusão digitais de imagem. Do ponto de vista dos conteúdos socioculturais também observamos transições interessantes. Enquanto Histoire du Cinema apresenta uma espécie de balanço do século XX, suas grande utopias, suas catástrofes e as formas de representação que daí emanam, Filme Socialistmo parece enfrentar o tema do caráter “deceptivo” que a resolução das grandes tensões do século XX legou ao início do século XXI. |
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