ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Um salve por São Paulo: cidade, mídia e violência em duas narrativas |
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Autor | Marilia Bilemjian Goulart |
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Resumo Expandido | Essa proposta visa discutir como a cidade de São Paulo é construída nos longas Os Inquilinos (Bianchi, 2009) e Salve Geral (Resende, 2009) e de quais modos os títulos inserem e constituem os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) em suas tramas.
Se algumas cidades são facilmente reconhecidas nas telas, o mesmo não se passa com São Paulo. Apesar de haver sido extremamente filmada e de ambientar emblemáticos títulos (como São Paulo S.A., O Bandido da Luz Vermelha e Invasor), a cidade não mantém traço marcante ou uma fisionomia que se imprima nas narrativas que abriga, seja na comparação de um mesmo período ou de diferentes décadas. Em sintonia com essa tendência polifórmica, Inquilinos e Salve Geral expressam uma variedade de formas e estilos ao se relacionarem com o mesmo evento. Os ataques do PCC realizados em maio de 2006 aparecem de diferentes modos, afetando múltiplos personagens nas narrativas que, por meio de uma combinação de elementos formais, constroem distintas cidades na tela. Na comparação, ao lado da trama e dos cenários, a banda sonora e a montagem surgem como elementos potentes na construção dos singulares universos fílmicos e das diferentes São Paulo(s) sob ataque. De um lado, uma narrativa centrada na casa e no bairro onde a violência surge com força nas entranhas do cotidiano, em especial por meio dos ruídos e falas; de outro, uma cidade de variadas regiões e ambientes onde a violência irrompe através das imagens em uma construção que passa pelas linguagens do filme clássico, de ação e também pela textura que remete à cobertura jornalística. A opção de discutir as imagens da cidade através das narrativas que lidam com a violência se apoia na noção de que cidade e violência se influenciam mutuamente: além da longa parceria no cinema, a dupla também possui forte conexão fora das telas. Como fenômeno social, a violência (considerada em sua manifestação física e, não menos importante, formada pelos discursos sobre ela) influi na organização de práticas e na configuração física do urbano, criando rupturas simbólicas que deslancham em consequências reais no uso do espaço (JAGUARIBE, 2007), como esvaziamento das ruas e disseminação dos enclaves fortificados (CALDEIRA, 2000). Além de abordarem a violência urbana, inserindo os ataques e outros eventos em suas narrativas, ambos títulos apontam para a importância dos discursos sobre a violência como parte constitutiva do próprio fenômeno (RONDELLI, 1998), em especial por incorporarem de modo amplo e significativo a cobertura midiática em suas diegeses. Como um evento extremamente ímpar na cidade, os ataques tiveram forte dimensão midiática: em maio de 2006 quem estava em São Paulo experimentou de modo mais menos direto as ações do PCC, da polícia ou dos boatos, mas de modo amplo os ataques foram largamente vividos através das reportagens e notícias que como uma enxurrada inundaram e afetaram o cotidiano paulistano, contribuindo com a construção do pânico que se espalhou. Assim, o evento histórico pode ser pensado também como um evento midiático e ao inserirem discursos dos telejornais e rádios na construção de suas diegeses, os títulos (que ao lado das falas sobre o crime e das vozes da mídia também são discursos sobre a violência) se posicionam perante as produções dos meios de comunicação, revelando tanto aderência quanto crítica. A discrepância no tratamento do mesmo evento e os diferentes modos como a cidade ambientada no mesmo período é esboçada nas narrativas oferece interessante quadro para dissecar as possibilidades na abordagem do urbano, e especificamente de sua violência. Como na gíria popular, “salve” é tanto uma saudação quando indicação de aproximação, de encontro; nesse sentido, os filmes “dão um salve” na cidade, vão a seu encontro e, através desses diferentes encontros é possível discutir os modos como a cidade, marcada pelo salve da violência é pensada, percebida, imaginada e temida, ao menos, no audiovisual. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Poetics of Cinema. Nova Iorque: Routledge, 2008.
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