ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Valores de universo e de absoluto: representações do cinema brasileiro |
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Autor | Mônica Baltazar Diniz Signori |
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Resumo Expandido | Sustentado teoricamente pela semiótica francesa, este trabalho aborda cinco filmes selecionados pelo Brasil para concorrerem a uma vaga na disputa ao OSCAR de melhor filme estrangeiro entre os anos de 2003 e 2012: Cidade de Deus (2003/2004), Olga (2005), Dois Filhos de Francisco (2006), Salve Geral (2010) e Tropa de Elite 2 (2012). Considerando que essa seleção visa não apenas representar para o mundo a qualidade da produção cinematográfica nacional, mas também uma imagem do próprio país, objetivamos verificar em que medida a configuração desses filmes está relacionada à criação de um sentimento de brasilidade, e como esse sentimento é significado, o que nos leva, igualmente, à abordagem dos modos de geração do sentido desses textos. Para tanto, mantemos atenção na inter-relação entre o plano da expressão e o plano do conteúdo de cada um dos filmes, assim como na intertextualidade que se estabelece entre eles. Trabalhos anteriores (SIGNORI 2013:66), mais focados no plano do conteúdo, apontam-nos "um percurso histórico marcado pela urbanização da população brasileira, que não apenas deixa os espaços rurais, mas ocupa gradativamente espaços urbanos sempre maiores – Dois Filhos de Francisco –, nos quais a desigualdade social concorre para a formação de miseráveis isolados em favelas ou em bairros pobres das grandes cidades – Cidade de Deus e Tropa de Elite 2 –, constituídos e mantidos pela corrupção que permeia o funcionamento da política brasileira, a ponto de não se distinguirem os limites entre o interior e o exterior dos espaços prisionais – Salve Geral –, indefinição que representa a derrota da luta em prol de valores ancorados na supremacia do bem comum frente a interesses particulares – Olga. Neste filme, em que o idealismo no Brasil é aniquilado em uma câmara de gás, os espaços de condução da narrativa têm sua delimitação visualmente obscurecida, criando-se, com isso, um efeito de dispersão dos sujeitos que, gradativamente, são tomados pela indistinção, convertendo-se em pessoas comuns, cujas preocupações voltam-se para a intimidade das relações domésticas. Essa mesma intimidade pode ser observada em Salve Geral, que igualmente expressa a generalização espacial de um país comandado pelo crime organizado, denúncia explícita em Tropa de Elite 2. Tamanha falta de ética e de moralidade resulta em uma condição de barbárie, em uma Cidade de Deus fechada em si mesma, arbitrando suas normas peculiares de comportamento. Refém de um estado consumido pela sedução das vantagens pessoais, resta ao cidadão brasileiro construir seus espaços de refúgio em meio a uma realidade injusta e, consequentemente, hostil: resta ao cidadão brasileiro abrigar-se em espaços oníricos, como loucos Franciscos, driblando dia a dia o caos da marginalização e do desrespeito à cidadania". Observamos nessa figurativização da sociedade brasileira um jogo entre regimes de participação e de exclusão homologado pela expressão sincrética dos operadores de mistura e de triagem. Esses operadores, que hora destacam e selecionam, hora obscurecem e mesclam, constroem-se visualmente por meio de recursos cromáticos e topológicos que, uma vez associados à linguagem verbal, produzem efeitos de suspensão de oposições como /interioridade-fechada-presa/ vs /exterioridade-aberta-livre/, em consonância com a subversão da ordem social (como se evidencia em Salve Geral), ou com a segregação socioeconômica (desenhada em Cidade de Deus). Reconfigurações topológicas são igualmente observadas em Tropa de Elite 2 (em que a narrativa verbal sobrepõe-se à narrativa visual (re)criando delimitações), assim como em Olga que, em movimento contrário, sobrepõe o visual ao verbal, dissolvendo limites espaço-temporais. Confundido em suas coordenadas discursivas, emerge o sujeito que se deixa apreender pelo objeto, que irrompe pela sonoridade e pela luminosidade (Dois Filhos de Francisco) ou pelo flash fotográfico (Cidade de Deus), sinais sutis que, se captados, promovem, ainda, a subjetivação. |
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Bibliografia | Referências Bibliográficas
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