ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Que história é essa?: estratégias de engajamento em Once Upon a Time |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Coautor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | “Era uma vez, uma floresta encantada repleta de personagens clássicos que conhecemos. O que achamos que conhecemos. Um dia, eles se viram presos em um lugar em que seus finais felizes foram roubados: nosso mundo. E foi assim que aconteceu…”
Com esse texto tem inicio o primeiro episódio de Once Upon a Time. Após as cartelas, vemos o Príncipe Encantado cavalgando em uma bela paisagem, chegando à floresta e encontrando Branca de Neve dentro de seu caixão de vidro, cercada pelos sete anões. Ele decide beijá-la como despedida e, como todos já esperamos, ela acorda. Em seguida, somos levados ao casamento dos dois e pensamos que a série já começa com o final feliz, mas, antes que os noivos possam se beijar, a Rainha, madrasta de Branca, interrompe a cerimônia e ameaça os noivos. A imagens dos dois assustados se transforma na ilustração de um grande livro que é levado por Henry, um menino de aproximadamente 10 anos que, nos dias de hoje, chega à cidade de Boston desacompanhado. Henry procura por Emma e bate à sua porta. Ele diz ser o filho que ela entregou para adoção anos antes e que ela é a única capaz de quebrar a maldição que foi lançada sobre Storybrooke e que mantém os personagens de contos de fadas presos ao nosso mundo. Assim, a série vai mesclando passagens do “mundo real” com acontecimentos do “mundo mágico” e vamos juntando as peças do que pode ter acontecido aos personagens. Aos poucos, desvendamos que personagens estão na cidade e que papéis eles desempenham nessa nova realidade. Esse é o primeiro desafio proposto por Once Upon a Time: cabe ao espectador começar um jogo de adivinhação e associação para reconhecer personagens e juntar peças da histórias e das tramas que se cruzam para montá-la. Este é o ponto de partida da série de TV criada por Edward Kitsis e Adam Horowitz e 2011 que está em sua terceira temporada – já com uma quarta anunciada - recebendo cada vez mais personagens e referências. Além disso, ganhou, este ano, um spin-off chamado Once upon a Time in Wonderland, que focará na história de Alice no País das Maravilhas antes dos acontecimentos que deram início à série original. Os criadores têm vontade de criar spin-offs de diferentes contos de fadas a cada temporada. Recentemente, a série, que já contava com uma graphic novel, ganhou também um romance, Rewakened, baseado na primeira temporada, mas trazendo uma novo ângulo para as histórias contadas na televisão. Através de referências literárias e audiovisuais, OUaT constrói, então, o seu universo. Na direção proposta por John Ellis de que a adaptação seria uma memória cultural circulada do romance, testemunhamos, neste caso, o processo contínuo de criação de uma galáxia instensamente criativa, rica em referências, permitindo que uma versão se remeta a outra constantemente, se distanciando do texto literário na construção de um imaginário próprio deste universo audiovisual. Nos deparamos, aqui, com um sistema auto sustentado e retro alimentado de referências. O audiovisual pode, dessa forma, ser incluído nessa espiral, de produtos que se citam, se reconhecem e que dialogam entre si. Se apropriando dos personagens e histórias, a série constrói novas tramas, utilizando ainda referencias visuais de outras adaptações feitas dessas histórias milenares e que fazem parte do imaginário de pessoas por todo o mundo. Além disso, OUaT cria nos fãs essa vontade de imaginar novos rumos e criar novas características para os personagens que conhecem. Nessa rede, tudo é possível e a imaginação dos espectadores vai longe, juntando, da mesma forma que é feito na série, diversas referências. Este trabalho procura refletir sobre a forma como Once Upon a Time explora a memória como um recurso de adaptação e como um meio de criação de um universo que dialoga com outros textos, da mesma forma que se utiliza da própria memória de leitores e espectadores, criando também estratégias transmidiáticas, para atrair e fidelizar seu público. |
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Bibliografia | DeCERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
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