ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Nelson Pereira dos Santos: escrevendo com luz |
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Autor | Marise Berta de Souza |
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Resumo Expandido | Nelson Pereira dos Santos, cineasta que ocupa posição estratégica na constituição do moderno cinema brasileiro, tomou como referência na sua trajetória o percurso já trilhado pela literatura brasileira. Destacam-se, no conjunto de sua obra, filmes em que se serviu do expediente da transposição criativa – transcriação - e, por afinidade, se apropriou do texto literário e construiu suas imagens, imaginando-as cinematograficamente. Dessa forma, para criar um cinema endógeno, de matéria e expressão próprios, toma como referência o percurso da literatura brasileira e afirma que as experiências vivenciadas no moderno cinema brasileiro já haviam sido experimentadas, de diferentes modos e graduações, por esse meio de expressão artística.
As adaptações, ou o que se convencionou conter esse conceito, localizam-se, por definição, em meio ao corte superposto da transformação intertextual, de textos gerando outros textos em um processo infinito de reciclagem, transformação e transmutação. Assim, o trânsito intertextual se faz presente nas relações entre cinema e literatura. As possibilidades de inter-relacionamento dos dois meios de expressão artística são inúmeras, apesar de o aspecto dominante recair nas questões relacionadas à fidelidade das adaptações, sendo menosprezadas as particularidades e substâncias desses modos de expressão artísticas. O projeto cinematográfico de Nelson liga-se à literatura num programa comum em que o autor cinematográfico via no autor literário uma extensão do seu desejo numa relação dialógica, dinâmica e viva, em que o ato criador passa a ser uma troca de informações, uma conversa íntima, partilhada, entre dois diferentes modos de criação e prazer: escrever e filmar. Um texto pode conter inclinações cinematográficas e um filme pode se servir de informações literárias, sem que com isto essas formas de expressão imponham subordinação uma à outra. Em uma transposição intersemiótica,” de um signo para outro” (PLAZA, 1987), qualquer pensamento é necessariamente tradução que se imiscui e se contamina, fazendo com que os sistemas e as técnicas convocadas para dar forma ao imaginário, tanto pelo cinema como pela literatura, mobilizem os variados níveis de composição e modos próprios de cada manifestação artística. Nelson Pereira dos Santos, no conjunto de sua obra, experimentou essa relação de diferentes formas e muito proveito tirou disso. No seu processo criativo, fez escolhas a partir de um outro sistema de signos, a literatura, que pela própria constituição e diferença o levou a novas descobertas cinematográficas. Essa conversa, tocada por um sentimento referencial sociopolítico com o autor literário, que toma o texto como um roteiro vivo, que ao ser lido o conduz e impulsiona para a criação do filme, foi mantida com alguns de seus autores preferidos, reconhecidos como intérpretes e contadores de Histórias do Brasil: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Machado de Assis, entre outros. Nesta apresentação, será verificado como a prosa de Graciliano é traduzida e dialoga com a narrativa de Nelson. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos. O cinema dilacerado. Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.
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