ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Representações da loucura feminina no cinema – um enfoque de gênero |
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Autor | Maria Inês Detsi de Andrade Santos |
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Resumo Expandido | Nosso interesse, neste estudo, está direcionado para a esfera simbólica, focalizando as representações sobre loucura feminina no campo da produção cinematográfica, através da análise de dois filmes: Augustine – uma produção francesa, de 2012, da diretora Alice Winocour; e o filme Nymphomaniac (Ninfomaníaca), de origem dinamarquesa, produzido em 2013, pelo diretor Lars Von Trier.
O filme Augustine tem sua narrativa construída com base em um dado histórico, um caso de histeria tratado pelo famoso médico francês M. Charcot, no final do século XIX, no Hospital Pitié-Salpêtriere, em Paris. Já Nymphomaniac, relata a trajetória pessoal de uma mulher “viciada em sexo” que vive, provavelmente, em uma cidade do mundo ocidental contemporâneo. Este estudo focaliza o cinema em sua dimensão social e como forma de expressão cultural. Ao fazer uso dos diversos discursos sociais, o cinema produz material simbólico – imagens, valores, representações que, ao ser apropriado pelos sujeitos, contribui para a construção das suas identidades. Analisar as representações da loucura feminina, em produções cinematográficas, nos remete primeiramente ao conceito de representações sociais, concebidas como “fatos de discurso”, construídos na interface do vivido – vivência do corpo, da subjetividade, experiências e práticas cotidianas e coletivas – e do concebido – saberes, ciências, conceitos (Lefebvre, 1983), estando relacionadas às condições de existência de determinados grupos ou classes, procedendo de uma conjuntura ou conjunção de forças em uma estrutura social. (LEFEBVRE, 1983, p. 60) Nesse sentido, “as representações sempre têm um suporte social e um conteúdo prático irredutível.” (idem, p. 94) Tratando-se de um estudo sobre representações da loucura é importante afirmar que tomamos loucura como uma categoria sócio-cultural que, portanto, não se reduz à sua dimensão subjetiva, sendo resultante de práticas sociais, de sistemas de classificação e de normalização social, através dos quais alguns sujeitos, ou grupos são definidos como loucos, por aqueles que têm mais poder e legitimidade para afirmar o que seja loucura e apontar os que podem ser chamados de “loucos”. A produção da loucura envolve aspectos subjetivos, culturais e políticos, sendo um processo atravessado por relações de poder e hierarquia. Como categoria social, a loucura é também afetada pelo Gênero que, sendo um sistema classificatório e um “aparato semiótico” (Lauretis, 1994), define valores, hierarquias e lugares diferenciados, na estrutura social, para homens e mulheres, influenciando na construção das representações sobre a loucura e nas formas de ser louco ou louca. As representações sobre loucura feminina, nos filmes citados, constituem, portanto, o material simbólico que nos interessa, nesta análise, que busca compreender em que medida tais representações estão atravessadas por uma idéia de loucura, produzida historicamente, pelo discurso médico, no Ocidente, e que ganha contornos específicos em razão do Gênero. Isso requer uma discussão que contemple considerações sociológicas acerca dos lugares historicamente destinados à loucura, e às mulheres, e como esses processos podem ser identificados através da análise dos filmes. Algumas questões que orientam a nossa análise: Na cosmologia das sociedades de origem patriarcal, o feminino aparece associado à natureza e o masculino à cultura. A partir dessa divisão, as mulheres são vistas como regidas por regras, sobre as quais elas não têm controle e que são difíceis de serem contidas e decifradas. Se o feminino é da ordem da natureza, e o corpo o seu lócus privilegiado, seria no corpo, principalmente, que a loucura feminina se manifesta? Como podemos trabalhar essa questão nos filmes? Tradicionalmente, no imaginário social, as mulheres têm sido associadas ao amor, sendo este visto como uma “peça constitutiva da identidade feminina”. (LIPOVETSKY,2000 p. 32) Podemos identificar tais representações nos filmes? |
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Bibliografia | FOUCAULT, Michel. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 2005
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