ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Felix e Niko, um casal: Amor à vida e representação da homoafetividade |
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Autor | Mauricio Reinaldo Gonçalves |
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Resumo Expandido | Nestes poucos mais de quarenta anos, desde a exibição de Betto Rockfeller, pela Tevê Tupi (1968), a telenovela tornou-se um significativo produto da cultura brasileira, fazendo parte do quotidiano de milhões de brasileiros. Telenovelas como Vale Tudo (1988), O Rei do Gado (1996) e Avenida Brasil (2012), por exemplo, ao apresentarem seus personagens envoltos em questões do dia-a-dia dos espectadores, nada mais fizeram do que dar continuidade a esse traço característico da teledramaturgia brasileira, inaugurado por Beto Rockfeller, e que determinou o sucesso e a popularidade da expressão teledramatúrgica nacional; construir suas estórias em torno de questões e contextos familiares aos espectadores.
Nessas, e noutras telenovelas antes delas, nossa população passou a identificar formas de comportamento a seguir, modos de pensar e agir, de julgar e de como poderia ser julgada. Nesse espectro, as questões de sexualidade e comportamento de gênero e orientação sexual, tenderam, historicamente, a uma abordagem mais conservadora e moralista. A homossexualidade e, principalmente, a homoafetividade raramente eram retratadas e quando o eram, fazia-se de um modo nada positivo para a construção de uma posição de respeito à diversidade representada pelos cidadãos e cidadãs partilhando modos de vida diversos da heteronormatividade. Quando personagens homossexuais apareciam ou sua homossexualidade era insinuada na trama, acabavam por “converterem-se” à heterossexualidade ou por construir estereótipos que apenas reforçavam preconceitos já existentes na sociedade, ou pior ainda, acabavam literalmente desaparecendo da trama, como em Torre de Babel, de Silvio de Abreu (1998), quando uma explosão de shopping center foi necessária para dar cabo a duas personagens lésbicas em função da rejeição do público. Entre avanços e retrocessos na abordagem da homossexualidade e da homoafetividade, tivemos a telenovela Amor à vida, escrita por Walcyr Carrasco, dirigida por Wolf Maya e levada ao ar pele Rede Globo, no horário das 21hs, de maio de 2013 a janeiro de 2014. Nela, dois personagens masculinos, Felix e Niko, acabaram por envolver-se em um relacionamento homoafetivo que foi se construindo durante a trama e confirmado com “final feliz” nos últimos capítulos. Esta comunicação pretende discutir o processo narrativo que deu conta da construção dessa relação homoafetiva; o modo com que esses personagens e sua afetividade foram levados – a partir da teledramaturgia e da narrativa audiovisual que a trouxe às telas – ao conhecimento do público, assumindo, em vários capítulos da trama, o protagonismo dramático e o interesse maior da audiência. Algo inédito, tratando-se de casal homoafetivo em telenovela da Rede Globo. Para tanto, lançaremos mão dos conceitos de transparência e opacidade dos elementos da linguagem audiovisual na narrativa clássica, como discutidos por Ismail Xavier, considerados em sua possibilidade de promover a identificação e o ilusionismo nos processos de leitura das mensagens pelos telespectadores. Pensando nesse modo de construção narrativa como sendo o utilizado pela Rede Globo em boa parte de suas telenovelas, é possível associá-lo ao modo com que as representações das relações heteroafetivas têm sido construídas narrativamente, apresentadas ao público e têm conquistado sua simpatia e identificação. Interessa-nos discutir, então, como essa estratégia narrativa – tradicionalmente vinculada a conteúdos conservadores – foi usada em Amor à vida, na representação de conteúdo potencialmente transgressor, tratando-se do envolvimento homoafetivo entre os personagens Félix e Niko. Pensar também, a partir do conceito de negociação entre publico e conteúdo das mensagens, desenvolvido por Stuart Hall na sua discussão sobre a decodificação das mensagens televisivas, como os públicos (gerais e específicos) podem ter apreendido esse tema a partir de um produto cultural tão fortemente enraizado em seus quotidianos como o é a telenovela “das nove”. |
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Bibliografia | HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
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