ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Não há problema mais importante do que esse para se fazer um filme? |
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Autor | Flavio Kactuz (Flávio C. P. de Brito) |
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Resumo Expandido | Esta análise parte de uma provocação que se evidencia numa cena do filme Hasta cierto punto (1983) de Tomás Gutiérrez Alea (1928-1996), através de um rápido diálogo entre um operário e um cineasta, legítimo representante da intelectualidade cubana, quando se vê questionado sobre a validade em realizar um documentário sobre o problema do machismo em Cuba, diante de tantas outras prioridades. Um questionamento que, aparentemente, poderia passar despercebido na obra e no contexto cinematográfico de outro país. No entanto, torna-se extremamente revelador de um acirramento crítico de um diretor, que apesar de sempre ter sustentado “a condição paradoxal de intelectual ‘crítico e engajado’, problematizando os rumos tomados pelo socialismo cubano e expondo os chamados ‘erros da Revolução’ através de metáforas, alegorias e narrativas em forma de parábola”. (VILLAÇA, 2006, p.227), irá acentuar ainda mais suas divergências com Alfredo Guevara, diretor do ICAC e alguns membros do governo, despertando críticas e censuras internas, sempre desmentidas pelo diretor, numa relação de extrema ambiguidade que estará ainda mais evidente em Fresa y Chocolate (1993) e, principalmente, em Guantanamera (1995), seu último filme, finalizado por Juan Carlos Tabío, duramente criticado por Fidel Castro, que o classificou como obra contra-revolucionária num discurso de mais de 7 horas.
À primeira vista tudo parece pertencer às contradições de um longo processo revolucionário e restrito ao seu contexto político e cultural. Entretanto, se observarmos com apurada atenção, iremos verificar que Hasta cierto punto (1983) e Fresa y Chocolate (1993), não apenas representam um redirecionamento na obra de Gutiérrez Alea, e no próprio cinema cubano que assistia nesse período um projeto de governo dedicado a promover a combater o “machismo-leninismo” cubano (VILLAÇA,2006, p.233), mas antecipam e trazem à tona contradições que ficaram ausentes por muitos anos na pauta da maior parte das produções de seus vizinhos contemporâneos à Titón, salvo pouquíssimas exceções, e que hoje se faz presente e ainda mais pertinente no cinema latino-americano contemporâneo. |
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Bibliografia | ALEA, Tomás Gutiérrez. Dialética do espectador. São Paulo: Summus, 1984.
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