ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Corpos visíveis: performatividade e performance em Naomi Kawase |
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Autor | Daiany Ferreira Dantas |
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Resumo Expandido | A trajetória política das mulheres na arte tem sido inscrita com o corpo. E isto também acontece no cinema, nos filmes feitos por mulheres. O corpo é um elemento que persiste na busca da autorrepresentação, num campo onde o feminino costuma ser explorado de forma erotizada e fetichista. Na narrativa fílmica, por meio da fragmentação e resignifição, o corpo feminino passa por distintas versões no cinema autorreflexivo feito por mulheres – exibido na familiaridade doméstica, como nas películas experimento de Chantal Akerman, multiplicado em duplos, nos filmes de Maya Deren, ou mesmo tornado um (anti)corpo, desmaterializado e descaracterizado de sua humanidade, como na escrita fílmica documental de Naomi Kawase.
Para Butler (1990), a performatividade dos corpos sociais se destaca pela falibilidade que estes portam ao repetir o gestual e os ritos do gênero binário, no entanto, a resignificação possível em representar a si mesmo não está somente contemplada na disjunção entre genitália e moldura corporal, como nos travestimos e transgêneros. Mas, na capacidade das representações do corporal contradizerem a condição natural do feminino e sua pretensa correspondência com a imagética do gênero binário. A ideia de performatividade de Butler, no espaço cinematográfico, será analisada diante do conceito de cenas presente Ranciére (2013), que assume uma composição estético-política da arte compreendida pela análise das condições de visibilidade dos corpos no cenário em que estes reconfiguram o campo da própria representação - no regime estético representativo que irá vigorar a partir do século XIX. Em sua obra Aisthesis, ele destaca as distintas cenas das narrativas de rearticulação do visível, e de que forma a percepção dos corpos sociais na arte irão impactar naquilo que hoje compreendemos como performance e mise en scéne. Este trabalho irá analisar de que forma o corpo, e a encenação, estão munidos do performativo na reconfiguração do espaço fílmico, analisando o média metragem Tarachime (2006), dirigido por Naomi Kawase, obra na qual a autora filma o próprio parto, os banhos da avó idosa, as marcas da gestação, do envelhecimento e dedica alguns segundos nos créditos de abertura à imagem vívida de sua placenta recém expelida. Kawase exibe um corpo inusitado, que constrói uma história própria, a partir das matizes de gênero, num cenário de reconfiguração do cinematográfico. A visibilidade deste corpo ao mesmo tempo em que agencia a sua materialidade e condição de existência. Aqui propomos que os corpos visíveis são também performativos, pois legitimam projetos coletivos por meio da estética no território do visível. Em contextos como o cinema autorreflexivo, no qual história e ficção, narrador e personagem, corpo social e corpo fílmico, montagem e fragmento dividem protagonismo, a performatividade pode estar contida na performance, emergindo por suas potencialidades de repetição e recontextualização, resignificando o espaços do cinema, tendo o corpo como elemento cênico, matéria prima e panorama histórico e social. Para Ranciére, todo corpo encenado irá trazer em si uma história, que se torna mais intensamente vívida pela percepção de sua desconstituição em fragmentos, ou Em sua investigação ele deduz que as “ações constitui os corpos” (p. 157) e que por meio deles os artistas geram formas geram formas “redistributing its forces and making it engender forms outside of itself” (p.104). O corpo se expande pela arte e os rastros de seus gesto é capaz de transformar os contextos onde encena, resignificando o entorno, por meio do fragmento, do artifício, da mobilidade e da percepção de tridimencionalidade. Nas cenas de Ranciére manifestam uma vontade estética, resignificando seus movimentos em espetáculo, uma repetição de formas que ganham sentido artístico expresso tanto pela descorporificação pela linguagem cênica, quanto pela sua constituição enquanto narrativa. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. La estética hoy. Madrid, Ediciones Cátedra, 2001.
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