ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Vladmir Carvalho, a História do Brasil e o Found Footage. |
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Autor | Simplicio Neto Ramos de Sousa |
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Resumo Expandido | Nossa proposta consiste numa análise da utilização do expediente do found footage, e da pesquisa e prospecção de imagens e sons de arquivo - feitos com vistas a uma montagem ensaística que reconstitua e/ou reconte a História -, na obra documental de Vladimir Carvalho. Analisaremos os filmes do cineasta paraibano - figura chave no movimento de documentários de seu Estado, movimento que influenciou o Cinema Novo -, que empreendem uma pesquisa audiovisual a respeito da História de nossa capital federal, Brasilia. São filmes como "Conterrâneos Velhos de Guerra" (1990) e "Brasilia segundo Feldman" (1979), que tem os candangos como protagonistas, os nordestinos que foram para o Planalto Central nos anos 60, para construir tanto os edifícios como a identidade da Capital Federal. A proximidade desta história com a deste professor que ajudou a consolidar o curso de Cinema da UnB, aproxima também o cinema de Vladimir do Cine Diário confessional. Tais filmes são peças de um historiografia da cidade feita em paralelo. Trata-se de um caso especial, de uma cidade que que teve sua própria fundação registrada em imagens em movimento, e mesmo televisionada, na primeira transmissão ao vivo realizada no país. Ao contrario de outras cidades mais antigas do Brasil, há uma produção de material documental sobre Brasília continua e considerável, vindo tanto de fontes oficiais como as amadoras, caso das usadas em "Brasilia segundo Feldman". Se Vladimir buscou inspiração na "lata de lixo da Historia", como na expressão cunhada por Jean Claude Bernardet em "Cineastas e Imagens do Povo", seu trabalho maior nem teria sido o de garimpeiro mas o de montador e comentador, criador de uma narratividade e um sentido possível para tal profusão imagética. Nesses filmes de montagem ensaística, ao contrario da narrativa audiovisual de não-ficção televisiva, tributária do documentário tradicional, didático, expositivo como chama Bill Nichols, vamos ver imagens de arquivo sendo utilizadas numa articulação complexificante, que gera pensamento a partir do confronto da imagem com a palavra, com o comentário textual que a confronta e a questiona, e não meramente a ilustra. A partir das considerações de Georges Didi-Huberman sobre a montagem cinematográfica, compararemos tais obras com os documentários ensaísticos realizados por Alain Resnais, Chris Marker e Agnès Varda. Didi-Huberman, em um texto seu, chamado "Quando as imagens tomam posição", faz a exegese do "Diário de Trabalho" de Bertolt Brecht. E tece considerações sobre a importância deste diário intimo, visto como obra artística de montagem, semelhante a um documentário de ensaio. No seu "Diário de Trabalho", o dramaturgo também coleciona recortes de jornal, com as notícias da atualidade, do mundo, da Grande Guerra. Brecht cobre tudo isso com comentários, legendas escritas ao lado das fotos recortadas dos periódicos. São como os comentários em voice-ver dos documentários de Godard, Varda, Resnais e porque não, Wladmir Carvalho. Analisaremos seus filmes no sentido de cine-diarios pessoais sobre sua relação com Brasilia, que servem indubitavelmente como testemunhos históricos. para responder as seguintes questões: como as questões da representação do real se cruzam com as da análise do fato histórico? Qual o pensamento sobre a História, que é próprio do documentário moderno?
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e Imagens do Povo. SP: CIA das Letras, 2003
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