ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A ditadura militar brasileira nos Noticieros ICAIC Latinoamerican |
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Autor | Cristina Alvares Beskow |
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Resumo Expandido | O Noticiero ICAIC Latinoamericano foi criado em 1960 com a intenção de servir como meio de contra-informação, agitação e propaganda do processo revolucionário cubano. Foi dirigido desde o início por Santiago Álvarez, que logo se tornou o principal responsável pela produção de cinejornais e documentários de Cuba, papel que desempenhou durante mais de três décadas como cine-cronista oficial do regime cubano. A câmera de Santiago Álvarez percorreu mais de 90 países, um “noticiero latino-americano crítico e, sobretudo, internacionalista” , seus filmes urgentes, como definia, eram “armas de combate” em prol da libertação dos países de “terceiro mundo”. Um cinema para alcançar as massas, com objetivo de ser “revolucionário e comunicativo.” O cinejornal circulava pelo país todo, sendo exibido em salas de cinema e projeções itinerantes por meio do chamado cine-móvel, além de ter cópias enviadas a outros países, como o Uruguai, que teve sessões dos Noticieros organizadas pelo “Cine Club de Marcha”, em Montevidéu.
De 1960 a 1991, foram produzidas 1.493 edições do Noticiero ICAIC Latinamericano. A singularidade desta documentação cinematográfica, tanto em termos estéticos quanto de conteúdo, atribui grande importância histórica ao Noticiero, considerado patrimônio cultural da humanidade da UNESCO desde 2010. Cada cinejornal abordava diferentes temas, desde política nacional e internacional à cobertura de eventos esportivos. Com o tempo, além dos informativos politemáticos, com notícias de 3 minutos, passaram a ser produzidos os monotemáticos de aproximadamente 10 minutos, sobre um único tema, mais aprofundado, sendo que muitos destes viraram documentários. Dos diversos temas abordados, destaca-se a cobertura de pautas políticas internacionais sobre dezenas de países, como os Noticieros sobre os golpes militares em países latino-americanos. Dentre estes, analisaremos as edições 469 (06 de outubro de 1969) e a 511 (12 de novembro de 1970), ambos sobre a ditadura militar no Brasil, instaurada a partir de 1964. Ambos tem como foco a libertação dos ex-presos políticos brasileiros trocados pelo então embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969. A edição 469 mostra Fidel Castro recebendo os exilados em Havana; e a a edição 511, feito "in memorian" a Carlos Marighela, mostra depoimentos dos ex-presos políticos denunciando as atrocidades praticadas pelo regime militar brasileiro. A denúncia da ditadura vem à tona por meio de uma linguagem experimental, marca do Noticiero ICAIC. Algumas características estéticas presentes são a utilização de “colagens audiovisuais”, mesclando diferentes materiais imagéticos e sonoros, como fotos de repressão, utilização de intertítulos informativos, imagens televisivas (como uma sequência da TV Tupi), manchetes de jornal e a música como guia narrativo. Além disso, a montagem se utiliza de metáforas e sobreposição de imagens como recurso discursivo, causando um efeito de contraste imagético e sonoro entre as sequências. Diante deste material, praticamente inédito no Brasil, este trabalho desenvolve uma reflexão sobre como este informativo audiovisual constitui-se como documento cinematográfico singular deste período, em que a censura e a repressão nos países imersos em ditaduras impediam a produção e exibição de filmes que contrariassem o discurso “oficial”. Rememorar este “documento-monumento”, 50 anos após o golpe de 1964, torna-se uma ação de reconhecimento da existência de outro lado da história, a dos “os vencidos”. Assim, as fontes cinematográficas se juntam às outras fontes historiográficas (escritas ou iconográficas) para servir como ferramenta de análise do passado, constituindo-se como um meio de “contra-análise da sociedade”. |
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Bibliografia | ARAY, Edmundo Aray. Santiago Álvarez: cronista del tercer mundo. Caracas: Cinemateca Nacional, 1983.
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