ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Seria o dualismo cidade e campo um gênero cinematográfico? |
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Autor | Cyntia Gomes Calhado |
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Resumo Expandido | Cidade e campo, litoral e sertão, urbano e rural, moderno e arcaico. São diversas as formulações dualistas encontradas nos textos de interpretação do Brasil. Em comum, essas definições trazem a ideia de um país moderno no litoral em oposição a uma nação resistente à modernização, no interior. Nas análises sobre a nação brasileira, sertão e litoral adquirem o sentido de imagens espaciais e simbólicas relacionadas a dois tipos de ordem social e cultural. A ideia da existência de “dois Brasis” – atribuída originalmente a Os Sertões (Euclides da Cunha, 1902) - influencia a intelectualidade, configurando uma concepção teórica da sociedade brasileira baseada nos contrastes e polarizações. O pensamento nacional de matriz dualista migrou para outros domínios da atividade intelectual, como a literatura e o cinema.
A dicotomia cidade-campo perpassa o cinema nacional. Desde seu início, com Nhô Anastácio Chegou de Viagem (Júlio Ferrez, 1908), passando por produções da Vera Cruz, como é o caso de O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953) e no Cinema Novo, a exemplo de Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964). Encontra-se também no Cinema Marginal, vide Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969), na Retomada, com Baile Perfumado (Lírio Ferreira e Paulo Caldas, 1997), Central do Brasil (Walter Salles, 1998), e na produção contemporânea, com O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho, 2012). O objetivo deste trabalho é propor que o dualismo cidade e campo possa ser analisado como um gênero cinematográfico, considerando as vertentes teóricas genéricas contemporâneas. Pensamos cidade-campo como um transgênero (BRAUDY, 1998), pois, apesar de apresentar determinada configuração sintática e semântica (ALTMAN, 2011) que permite identificá-lo como um gênero cinematográfico autônomo, também contém traços mais gerais que possibilitam sua adaptação a outros gêneros mais estáveis, como o horror, western e a ficção científica, por exemplo. Assim como o melodrama e a sátira, grande parte do poder de penetração e disseminação cultural do gênero cidade-campo encontra-se justamente no fato de ser facilmente permeável a outros gêneros. Para isso, definiremos os traços sintáticos e semânticos do gênero cidade-campo e faremos uma leitura genérica de filmes paradigmáticos da cinematografia brasileira, ressaltando as variações que esse gênero apresenta em diferentes períodos do cinema nacional. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: Palgrave Macmillan, 2011.
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