ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O triunfo do amador: O som de O Massacre da Serra Elétrica |
|
Autor | Rodrigo Carreiro |
|
Resumo Expandido | Reconhecido atualmente como um dos filmes mais influentes na consolidação da estética semidocumental muito popular no cinema de horror moderno, O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre, Tobe Hooper, 1974) foi concebido, na verdade, como uma espécie de cartão de visitas que pudesse apresentar a estúdios e produtores profissionais o trabalho de um grupo de estudantes de cinema da universidade de Austin, no Texas (EUA). Produzida aos trancos e barrancos, a estreia de Tobe Hooper no formato longa-metragem deixou um rastro de escândalo em várias cidades onde foi exibido, tornou-se objeto de censura durante anos em países com a Inglaterra (NEWMAN, 2011, p. 73), e só alcançou o status de obra cult mais de uma década depois do lançamento original, quando o recuo proporcionado pelos anos deixou evidente a influência do filme no mais popular subgênero do horror dos anos 1980: os slasher movies (filmes nos quais um serial killer, quase sempre mascarado e às vezes de origem sobrenatural, mata adolescentes a esmo).
O trabalho de sound design do filme, porém, permanece pouco discutido. A sonoridade visceral, sombria e aterrorizante do filme talvez seja uma das principais contribuições do longa-metragem para a cultura cinéfila, através de técnicas arrojadas e pouco praticadas na época, em especial a utilização de princípios da musique concrète para dissolver ou apagar as fronteiras (bastante rígidas até poucos anos antes, em se tratando de produção cinematográfica) entre música e efeitos sonoros (SERGI, 1999; KASSABIAN, 2003; OPOLSKI, 2013). Nesta apresentação, tenho como objetivo reconstituir a experiência da criação dos sons que ouvimos na trilha sonora de O Massacre da Serra Elétrica, buscando destacar um aspecto pouco discutido acerca da concepção sonora do filme: a presença majoritária de amadores e estudantes inexperientes na pequena equipe responsável pela captação de som direto, pela edição de som, pela criação de efeitos sonoros e pela concepção musical. Pretendo, com isso, demonstrar que o relativo desconhecimento das práticas tradicionais de produção e das relações entre os diferentes elos da cadeia produtiva do som no cinema, por parte dos membros da equipe, acabou sendo mais benéfico do que prejudicial ao resultado sonoro da obra. O projeto de O Massacre da Serra Elétrica foi concebido como uma produção de US$ 60 mil, custeada pela própria equipe de produção. Nenhum membro da equipe, com exceção de alguns atores, recebeu salário para trabalhar durante as seis semanas de filmagem. Várias pessoas que exerceram funções técnicas importantes do longa-metragem desistiram de fazer cinema após a experiência nos calorentos sets de filmagem. A diretora assistente e co-montadora da produção, Sallye Richardson, nunca mais teve outra experiência com cinema. Em O Massacre da Serra Elétrica, Richardson fez a edição de som direto – usando uma moviola colocada na mesa de jantar da casa do diretor, Tobe Hooper – e supervisionou a mixagem sonora, realizada por técnicos do estúdio de gravações Todd-AO, em Los Angeles (EUA). Apenas três pessoas trabalharam na pós-produção de O Massacre da Serra Elétrica. Além de Richardson, Wayne Bell (microfonista, músico e editor de som) e o próprio diretor, Tobe Hooper, construíram a trilha sonora. Os dois últimos criaram a música e os efeitos sonoros, trabalhando em dupla. Diante da documentação farta do processo de pós-produção (JAWORZYN, 2013), é possível afirmar que o som assustador do longa-metragem nasceu do método caótico – ou, mais precisamente, da falta de método – de trabalho dessa equipe. Ao longo da apresentação, destacaremos como a falta de informação e experiência ajudaram a produzir "defeitos" que, curiosamente, sublinharam as qualidades viscerais das imagens do filme. |
|
Bibliografia | » BUHLER, James; NEUMEYER, David; DEEMER, Rob. Hearing the movies: music and sound in film history. New York: Oxford University Press, 2010.
|