ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Chinatown e Estrada Perdida:morte, violência e crime no cinema neonoir |
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Autor | Alexandre Rossato Augusti |
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Resumo Expandido | O trabalho parte de um recorte de minha tese, intitulada Cinema noir: as marcas da morte e do hedonismo na atualização do gênero. As estratégias metodológicas são propostas a partir da análise fílmica, cujas principais orientações são dos autores Jacques Aumont e Michel Marie (2004), no livro A análise do filme, e de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété (1994), em Ensaio sobre a análise fílmica. As tipologias traçadas para o desenvolvimento do trabalho são formadas, por um lado, pela morte, a violência e o crime e, por outro, pelo hedonismo e a figura da femme fatale. No que se refere a presente demonstração, detém-se à primeira tipologia.
O cinema noir clássico, acentuadamente negro, tanto no que se refere aos ambientes que privilegiam a escassez de luz quanto ao peso de sua atmosfera sufocante, trabalha com uma série de elementos que norteiam o presente estudo. Para o estabelecimento da morte, violência e crime como uma tipologia de análise, é inevitável que se pense na instabilidade das personagens, que em geral oscilam entre o bem e o mal, bem como na corrupção inerente a boa parte delas. É nesse sentido que a transgressão moral, o peso do passado e o pesadelo fatalista repercutem no destino de muitas personagens, vítimas da confusão, traição e demais armadilhas impostas pela trama noir. A iluminação claro-escuro auxilia na construção do cenário urbano repleto de sombras e que privilegia o suspense típico desses filmes. Entretanto, o trabalho considera algumas especificidades dessas mesmas características, o que auxilia na delimitação do cinema neonoir. A fim de expor melhor as considerações desta proposta, selecionam-se os filmes Chinatown (Roman Polanski, 1974) e Estrada perdida (Lost highway – David Lynch, 1997). O primeiro é apontado por alguns dos autores utilizados nesse trabalho – destacam-se Silver e Ursini (2004), além de Bergan (2009) – como um dos melhores exemplos de filmes neonoir, trazendo forte ligação com os filmes clássicos do gênero, inclusive apresentando estrutura igualmente complexa à de Relíquia macabra. Já Estrada Perdida permite realizar um paralelo com Chinatown ao passo que ambos podem ser considerados filmes neonoir, possuindo o primeiro, entretanto, características muito particulares, dado os períodos distintos em que foram realizados. O filme de Lynch consente perceber um desenvolvimento muito significativo dos principais elementos de observação propostos neste trabalho (a morte, a violência e o crime) e que ocorre muito devido ao avanço da tecnologia, que reporta a imagem em movimento a um outro panorama, possibilitando ao cinema oferecer outras formas de percepção da sua narrativa. A violência acentuada, a exemplo de como são mostrados os cadáveres em Chinatown, além da nudez mais explícita, redirecionam os principais elementos norteadores das narrativas noir a fim de atualizá-los de acordo com o novo período que ampara o filme. Esses mesmos elementos são ainda mais explorados em seu potencial visual no filme Estrada Perdida. Constata-se também que, no universo de incertezas do noir, a perda de valores norteadores também repercute na complexidade do perfil psicológico das personagens. Com os novos delineamentos da sociedade contemporânea, tais referenciais são bem mais contestados no neonoir, podendo incorporar, a exemplo de Estrada Perdida, elementos que provocam questionamentos sobre ilusão e realidade, complexificando ainda mais as relações entre as personagens. O trabalho permite, a partir do que é posto sobre as novas orientações que vêm se afirmando para a sociedade contemporânea, oferecer alguma compreensão sobre as fases percebidas como noir e neonoir. Defende-se a ideia de que a sociedade contemporânea é acentuadamente orientada para o individualismo e que essa condição age sobre os elementos noir e os reelabora, repercutindo no que se constata corresponder ao cinema neonoir. A compreensão da morte nesse novo panorama é uma das bases que forma, resumidamente, o cenário neonoir. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Texto e Grafia, 2004.
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