ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | RECEPÇÃO CINEMATOGRÁFICA NA ÁFRICA COLONIAL BRITÂNICA |
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Autor | Tiago de Castro Machado Gomes |
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Resumo Expandido | A questão da recepção cinematográfica e da espectatorialidade negra na África colonial Britânica pode ser desenvolvida a partir do estudo de duas unidades de produção locais: 1) o Bantu Educational Kinema Experiment (BEKE), uma das primeiras unidades africanas, que entre 1935 e 1937 produziu 35 curtas-metragens, em sua maioria exibidos em Tanganica, Niassalândia, Rodésia do Norte, Quênia e Uganda e 2) a Colonial Film Unit (CFU), que operou entre 1939 e 1955, produzindo e distribuindo cerca de 200 curtas-metragens realizados especificamente para os sujeitos nativos – em termos de linguagem e conteúdo – na quase totalidade das colônias africanas britânicas.
Ambas as unidades tinham como um dos seus objetivos principais uma maior integração e participação das colônias africanas dentro da política imperial britânica (questão mais proeminente em certos momentos históricos, como na Segunda Guerra Mundial e a intensa produção de filmes de propaganda da guerra) e também a promoção do bem estar social e o desenvolvimento comunitário dos sujeitos coloniais (questão visualizada em especial na realização e distribuição de filmes educativos com temas que promoviam noções de autossustentabilidade, agricultura, saúde, higiene, alfabetização e etc). Ao mesmo tempo em que promoviam importantes avanços sociais, no entanto, os filmes das unidades de produção serviram como apologia ao imperialismo e ao colonialismo. A crença de que a mente africana era “atrasada e primitiva” e, portanto, os povos africanos não compreendiam a linguagem já consolidada do cinema clássico, fez com que fosse desenvolvido o discurso por uma linguagem colonial específica. Dessa maneira, os filmes para os sujeitos coloniais deveriam conter uma montagem simplificada (com planos longos e abertos, por exemplos), poucos personagens, enredo simples e seguir diversas outras regras. Se traçado o desenvolvimento do discurso da compreensão dos africanos à imagens em movimento veremos que num primeiro momento, a partir principalmente dos anos 1920, o imenso racismo presente nessas sociedades pregava a incapacidade de compreensão audiovisual pelos africanos. Tal discurso se manterá vigente por muitas décadas, mas nas décadas seguintes surgirão alternativas a tal pensamento. Alguns estudos de recepção apontarão a possibilidade de rejeição aos filmes das unidades de produção como o BEKE e a CFU. Episódios como a agitação da plateia durante as exibições ou os depoimentos irônicos dos africanos sobre os filmes podem revelar como, em certo sentido, houve uma resistência ao conteúdo imposto pelos britânicos. A partir dessa rejeição pode-se traçar um paralelo à própria resistência ao imperialismo e a colonização europeia. O forte descontentamento popular e os crescentes pedidos por reformas econômicas, sociais e políticas é uma característica do período que se segue principalmente da década de 1930 até as independências. Que esse quadro possa ser enxergado nas plateias coloniais, em parte descontentes com os filmes das unidades britânicos, é uma de nossas hipóteses. A partir da exposição crítica dos estudos de recepção do período colonial sobre o espectador negro, é preciso atentar-se principalmente para a questão da resistência ao conteúdo produzido por tais unidades. Conceitos como o de espectatorialidade negra (DIAWARA, 1988) e as três “formas” possíveis de recepção segundo Stuart Hall (dominante, negociada ou resistente) são alternativas para definir algumas relações possíveis estabelecidas entre os filmes e o público colonial africano. Além desses, nota-se a importância de estudos sobre recepção levados a cabo na África Britânica pelas próprias unidades e outros órgãos britânicos como os textos de William Sellers (diretor da CFU) na revista Colonial Cinema e o estudo intitulado Cinema in Rural Nigeria: A Field Study of the Impact of Fundamental Education Films on Rural Audiences in Nigeria do antropólogo Peter Morton-Williams, por encomenda do Colonial Office nos anos 1950. |
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Bibliografia | BURNS, James. Watching Africans Watch Movies: Theories of Spectatorship in British Colonial Africa. Historical Journal of Film, Radio, and Television, 2000
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