ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Olhares cruzados: Fantasia na revista Clima |
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Autor | Annateresa Fabris |
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Resumo Expandido | Existem duas versões para explicar a gênese de Fantasia (1940), filme de animação concebido por Walt Disney como uma obra experimental, como um novo formato de espetáculo, que tinha como objetivo propor uma forma de apresentação da arte moderna ao grande público. A primeira reporta-se ao ano de 1938, quando Disney produz um curta-metragem de 9 minutos, inspirado no poema Balada do aprendiz de feiticeiro (1797), de Goethe. Concebido para restaurar o prestígio de Mickey, que estava sendo ofuscado pelo Pato Donald e Popeye junto aos espectadores, o filmete contava com a direção musical de Leopold Stokovski, que rege a peça O aprendiz de feiticeiro (1899), de Dukas. Entusiasmados com o resultado, Disney e Stokovski teriam pensado em produzir um longa-metragem de animação com o mesmo princípio, cabendo aos dois e ao crítico Deems Taylor a escolha das peças a serem associadas à animação. A segunda versão aponta para o nome do artista alemão Oskar Fischinger, que teria sido levado aos estúdios Disney, em 1038, pelo produtor Fred Quimby. Entre 1938 e 1939, Fischinger, que elabora o projeto de um longa-metragem em que a animação se encontraria com a música, trabalha nos desenhos da primeira sequência de Fantasia, inspirada na Toccata e fuga em ré menor, de Bach. Seu nome, no entanto, não consta dos créditos, em virtude do conflito que se criou entre ele e Disney. Dono de um estilo de animação peculiar, que se caracterizava por coreografias de formas simples, linhas sinuosas, traços vibrantes e rastros luminosos, o artista não concorda com as transformações que Disney faz em seus desenhos para torná-los mais figurativos e mais palatáveis para o público.
Mesmo que a colaboração entre Disney e Fischinger tivesse tido êxito, é possível que Fantasia continuasse a apresentar os desníveis apontados pela crítica entre os diversos segmentos, já que eles são de autoria de diferentes desenhistas e diretores, como assinala Antônio Branco Lefèvre no número especial que a revista Clima dedica à fita em outubro de 1941. O crítico musical atribui à grande quantidade de colaboradores a desigualdade das interpretações visuais, que faziam com que uma obra-prima como Quebra-nozes estivesse ao lado de "uma inqualificável monstruosidade" como a Sexta sinfonia, e que houvesse falta de uniformidade no tratamento de uma única peça, como demonstrava A sagração da primavera. Embora aponte a presença de "coisas verdadeiramente horríveis" no último segmento, o balanço de Lefèvre é, até certo ponto, positivo. Fantasia era a primeira tentativa importante de acordo das artes, apesar de resultar de experiências já feitas como divertimento e de não ter conseguido estabelecer, em diversos momentos, "uma ressonância recíproca entre a audição e a visão". |
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Bibliografia | CLIMA,São Paulo, n. 5, out. 1941.
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