ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O JOGO DE SEGUIR RASTROS: ANÁLISE FÍLMICA DE FUNNY GAMES ATRAVÉS DA TAR |
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Autor | Lívia Maria Marques Sampaio |
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Resumo Expandido | Adornar o cenário, trazer referências simbólicas, despertar sensações, expressar ideologias, delimitar espaços temporais, são algumas das diversas funções que os objetos possuem na elaboração fílmica. Funcionam também como instrumentos de construção, preservação e diferenciação de identidades. Modos diversos de apresentar objetos em cena não são exclusivos da arte cinematográfica, mas a representação, tributária do teatro, unida à tecnologia e aos objetos demarca a estrutura do significado de “ser um filme”.
O estudo da função dos objetos nos filmes não é recente, embora ainda não exista uma metodologia específica para tal. O fotógrafo francês, crítico e cineasta, Alain Fleischer (2004), já na década de 50 fez um estudo meticuloso sobre a função dos objetos em um filme, ao escrever sobre a dramaturgia dos objetos no cinema. O cinema é, sem dúvida, uma expressão artística mediada pela tecnologia. Muitas vezes confrontado com o teatro, entre convergências divergências e disputas, é consenso de que a tecnologia tornou possível a arte cinematográfica. A câmera, a iluminação artificial, o som, são alguns objetos que permitiram recursos a esta forma artística de registrar e manipular imagens. A proposta da Teoria Ator-Rede (TAR), ou Actor-network Theory (ANT) - desenvolvida principalmente, por Bruno Latour, Michel Callon e John Law na década de 80 -, de seguir os atores e rastrear suas associações pode ajudar no entendimento de como os não-humanos participam de uma composição fílmica. Segundo Stalder (1997, s.p.) “O objetivo da teoria é descrever uma sociedade de seres humanos e não-humanos como iguais atores ligados em redes construídos e mantidos, a fim de atingir um objetivo particular, por exemplo, o desenvolvimento de um produto.” Em Funny Games, o quarto longa metragem do diretor austríaco Michael Haneke, lançado em 1997, vários objetos, apresentados com frequência em planos longos e fixos, pontuam as cenas, e algumas vezes, as transformam. Objetos e aparatos tecnológicos apropriados de forma peculiar dentro da narrativa e são uma marca na filmografia do autor, pois em seus filmes, os objetos vão muito além de enfeites dos quadros ou figurantes da narrativa. Câmera fixa e longos planos convocam a atenção do espectador a todos os elementos postos em cena, mesmo que ele não se dê conta. No presente trabalho a ênfase será dada ao papel dos atores não-humanos na trama. Primeira questão: eles podem ser classificados como personagens? Em que qual categoria? Que estratégias foram utilizadas para inseri-los e combiná-los nas cenas? Um não-humano pode ser agente ativo em um enredo? Qual sua relação com a narrativa, considerando a metodologia proposta pela TAR? Percorrer este caminho analítico através da metodologia proposta pela Teoria Ator-Rede é enriquecê-lo. Uma análise é um trabalho de formiga, como se refere Latour à TAR, pois a sigla de Actor-network Theory, ANT em inglês, significa “formiga”. Neste trabalho, nenhum elemento deve ser deixado de lado. O analista deve farejar tudo, seguir todos os rastros, fazer todas as costuras possíveis, de forma técnica e ordenada. Impossível, ou, no mínimo muito incompleto, fazer uma análise fílmica que não considere o real papel dos objetos. |
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Bibliografia | FLEISCHER, Alain. Une dramaturgie des objets. In: AUMONT, J. Les voyages du spectateur: De l´imaginaire au cinema. Paris: Éditions Léo Scheer, 2004, p 81 -102.
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