ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Futuros imaginados em A guerra acabou, de Alain Resnais |
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Autor | Mauro Luiz Rovai |
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Resumo Expandido | Sobre A guerra acabou (França / Suécia, 1966, P&B, 121 min.), filme dirigido por Alain Resnais, com roteiro de Jorge Semprún, disse James Monaco que se tratava do filme “mais acessível de Resnais e [que] atingiu um público mais amplo e mais popular do que qualquer um dos seus outros filmes” (James Monaco, Alain Resnais, 1979, p. 96). Com outra ênfase, o mesmo havia dito Marie-Claire Ropars-Wuilleumier ao apontar A guerra acabou como o mais comunicável e, ao mesmo tempo, o mais elaborado de seus filmes (L’écran de la memóire, 1970, p. 206) e por Bounoure, ao destacar que Resnais surpreendeu a crítica com o filme, pois este foi visto como uma obra “clássica”, de “ação lógica” e “composição trágica”, diferente dos precedentes Hiroshima meu amor e O ano passado em Marienbad e Muriel (Alain Resnais, 1974, p. 34 - 35).
A trama do filme está claramente identificada no tempo cronológico, circunscrita entre a entrada de Diego Mora (Yves Montand) na França (início da manhã de domingo, 18 de abril de 1965) e sua nova partida para a Espanha (no final da tarde de terça-feira, 20 de abril). Envolvido na construção da “revolução” dede o exílio, o filme acompanha os passos da personagem, suas idas e vindas por Paris, seus intercursos amorosos, suas amizades dentro e fora do círculo político no qual atua, as discussões sobre o planejamento da ação política na Espanha etc., mas também a maneira particular como estabelece a sua relação com o presente, caracterizada pela tensão expressa no seu rosto, seus gestos estudados e comedidos, além dos passos e olhares sempre atentos para o que se passa (ou quem está) ao redor. O modo como a personagem de Diego está construída e o pano de fundo social e histórico mais amplo no qual se move a trama (a Guerra civil espanhola e a luta desde o exílio contra um inimigo que venceu e continua vencendo há quase 30 anos) já exerceriam, por si sós, um forte atrativo para o sociólogo interessado pelas relações entre cinema e sociedade. No entanto, outro aspecto, este associado ao que poderia ser chamado de “aspecto estético” do filme, nos chama atenção: os saltos no interior da ordem cronológica da narrativa do filme, em que a personagem de Diego imagina (antecipa, imaginando) sequências ou eventos que poderiam vir a ocorrer. Tais saltos para o futuro ajudam a colocar em perspectiva a preferência de Resnais pelo termo imaginário, palavra que, segundo ele, seria a mais adequada para se pensar os seus filmes (e não o termo memória, ao qual sua obra ficou associada). Além disso, no entanto, o recurso pode também permitir uma discussão sociológica sobre os termos em pauta, de modo não apenas a colocar memória e imaginário em relação, como também problematizar as dimensões temporais presentes no filme. O que se pretende, pois, é fazer uma discussão sociológica sobre a maneira como estão construídas, em A guerra acabou, as relações entre memória e imaginário, a partir de uma análise interna da obra, dando destaque ao modo como estão dispostos os elementos expressivos do filme (o uso dos planos e os movimentos de câmera, os sons, vozes, música e diálogos, os flash-forwards etc.). Esta proposta faz parte de pesquisa mais ampla, atualmente em curso, financiada pela FAPESP, que toma como ponto de partida três filmes de Alain Resnais. A ideia é tentar relacionar tais filmes (além de A guerra acabou, Noite e neblina – 1955 e Hiroshima, meu amor -1959) de modo a implicá-los uns nos outros, fazendo da mistura de vozes, de sons e dos circuitos de imagens que os constituem a possível construção de um tríptico do pós-guerra, do “depois de tudo”, da destruição e do extermínio. Não que as imagens, vozes, sons e silêncios de um estejam citados ou apareçam nos outros, mas, sim, como a temática da destruição (Auschwitz, Hiroshima, a França logo após a ocupação, a vitória do franquismo) percorre, e de que modo específico percorre, os três filmes de Resnais. |
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Bibliografia | BENAYOUN, Robert. Alain Resnais: arpenteur de l’imaginaire. Paris: Éd. stock, 1980
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