ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | ACORDES DISSONANTES PARA A SUBJETIVIDADE NO CINEMA LATINO-AMERICANO |
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Autor | Edvânea Maria da Silva |
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Resumo Expandido | Definido como “complexo sonoro de três ou mais frequências diferentes” (CUNHA, 1986, p. 11), o acorde serve-nos como exemplo de metáfora musical para pensar as consonâncias e dissonâncias entre as “notas”, quer dizer, os filmes “A teta assustada” (2009), de Claudia Llosa; “Whisky” (2003), de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll; e “O segredo de seus olhos”, de Juan José Campanella.
Na teoria musical, a tríade de notas nomeia e determina o caráter do acorde. A analogia se dá, num primeiro momento, porque o termo acorde nos remete, também, a acordo, à harmonia, algo não exclusivo do universo da música; num segundo momento, porque o nosso acorde é formado por três filmes de frequências, leia-se países, diretores, estilos/propostas, diferentes. Entretanto, para o nosso propósito, interessa-nos pensar essas narrativas que, sem qualquer classificação valorativa, soam juntas e produzem um novo acorde; dizendo de outro modo, produzem uma nova subjetividade política no cinema latino-americano deste início de século. No caso dessas narrativas, a consonância diz respeito ao fato de esses filmes falarem do cotidiano das pessoas comuns, o que se revela como uma partilha do sensível; e, ao dar visibilidade aos personagens de suas narrativas, ou seja, à gente comum, os cineastas abrem espaço para a política da ficção (RANCIÈRE). Vale ressaltar que, ao fazerem isso, eles realizam uma dissonância no cinema latino-americano, cuja cinematografia ficou conhecida por ser instrumento de mobilização política, na segunda metade do séc. XX. A dissonância que nos interessa é da configuração da experiência dos narradores/cineastas que abandonam o cinema político engajado e adentram no universo das dificuldades do ser humano, da sua solidão, do seu silêncio, dos seus medos, novas formas de subjetividade política. Como na música, essa dissonância no interior do acorde é harmonizada e resulta “em algo belo – tenso, mas belo” (BARROS, 2013, p. 28). Barros (p. 23) observa também que "[a]través da imagem visual (e sonora) do “acorde” – capaz de materializar várias coisas que acontecem ao mesmo tempo, e mesmo aquelas influências invisíveis ou menos audíveis, que são os ‘harmônicos’ – podemos compor para um autor um quadro de influências e traços característicos (‘notas’) tão complexo quanto desejemos". A citação é uma referência à historiografia, mais especificamente à imagem do ‘acorde teórico’ como recurso para capturar algo da “complexidade teórica” de historiadores; isso, entretanto, não nos impede de, a partir da metáfora musical, identificar “harmônicos” nos filmes de Llosa, Rebella e Stoll, e Campanella. Mas,como acontece na composição do acorde musical, no cinema, as notas/cenas toca-das/mostradas isoladamente não significam. É preciso pensá-las/selecioná-las/harmonizá-las de tal modo que possamos descobrir “como através desta ordenação podem ser criadas reações mentais no espectador, que apelam ao subjetivo, poético, onírico” (LÓPEZ JUAN, 2003, p. 104). Na analogia com as notas de uma escala, as cenas (os planos) podem, como acontece no universo da música, ser “fetichizadas como talismãs dotados de certos poderes psicossomático” (WISNIK, 1989, p. 75). Dizendo de outro modo, podem ser uma “manifestação de uma eficá-cia simbólica (dada pela possibilidade de detonarem diferentes disposições afetivas: sensuais, bélicas, contemplativas, eufóricas, outras)” (WISNIK, p. 75). Em “A teta assustada”, “Whisky” e “O segredo de seus olhos”, as notas/os planos “detonam” e conotam disposições de ausência de afeto (ou, pelo menos, dificuldade em expressá-lo), de solidão, de silêncio, de medo. Como leitores/autores dessa comunicação, nosso objetivo é propor possibilidades de leituras para os filmes em questão; são leituras diversas, nem por isso, menos harmônicas. São olhares, miradas, sobre acordes dissonantes que têm dado o tom no cinema latino-americano deste início de século. |
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Bibliografia | A TETA assustada. Direção e Roteiro:Claudia Llosa. Produção:Claudia Llosa. Peru-Espanha, 2009. 1 DVD (93 min).
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