ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Estágios e categorias do maneirismo: Uma classificação possível. |
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Autor | Ricardo Tsutomu Matsuzawa |
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Resumo Expandido | O artigo Dúne certaine maniére de Alain Bergala foi publicado no dossiê – Le cinèma à I´heure du maniérisme – em abril de 1985 na revista Cahiers du Cinéma. São destacadas cinco cenas de cinco realizadores no texto: a sequência do peep show de Paris, Texas (1984) de Wim Wenders, em que ele extrapola no virtuosismo em um campo e contra campo; um plano sequência de Estranhos do Paraíso (1984), de Jim Jarmusch que retrabalha as práticas do cinema moderno; o plano acrobático de O elemento do crime (1984) de Lars von Trier que resgata o barroco de Orson Welles; a cena de balada à beira do rio Sena em Boy meets girl (1984) de Leos Carax com o “ travelling de ator de Jean Cocteau”; a cena filmada diretamente da moviola em l’enfant secret (1979/1982) de Philippe Garrel, que integra uma distorção deliberada de suas próprias imagens (BERGALA,1985). O que Bergala aponta em comum entre elas seria a dificuldade dos realizadores em inventar “um plano” naquele momento; “esse desejo e essa dificuldade, cada um procura uma resposta, infeliz ou arrogante, mas uma relativa solidão em relação a seus contemporâneos na criação cinematográfica.” (BERGALA, 1985).
O texto é embrionário ao conceito de maneirismo no cinema e destaca o momento que o meio vivia como análogo ao que ocorrera nas artes plásticas após o fim do Renascimento na Europa. Bergala se apropria do termo Maneirismo da pintura para o cinema com a afirmação que norteia o texto, chegaram “tarde demais”, e como lidar com a tradição e o clássico, tudo já foi filmado. Um traço marcante do maneirismo seria que o referente não é mais o real, o discurso ontológico perdeu o seu espaço, ganhou um destaque para uma imagem do cinema, ele como seu próprio pano de fundo, autorreferente. Os realizadores se confrontam de suprimir esta memória ou busca-la a sua maneira. “O que funciona até aqui já não pode mais funcionar, a beleza já não é mais algo dado, a inocência se perdeu, tudo que parecia óbvio se tornou impossível” (DUBOIS, 2004, p.142). Refletindo sobre o maneirismo como “uma reconstrução de imagens de segundo grau” que dialoga com o chamado cinema pós-moderno. Propõe-se neste estudo esboçar uma classificação das possibilidades formais do maneirismo com a finalidade de qualificar em itens os estágios e categorias. Partindo da premissa de atualizar o conceito e repensar como as ideias do maneirismo podem ser apropriadas nos estudos do cinema no contemporâneo. Um primeiro desenho desta classificação, ainda carecendo de profundidade e conceitualização, pode ser em relação ao referente:- Apropriação em primeiro grau – assimilação direta e objetiva; - Apropriação em segundo grau – assimilação direta e subjetiva; - Apropriação em terceiro grau – assimilação indireta e subjetiva- referente não claro e identificado. E em relação as possibilidades formais maneiristas: - Hipertrofia ou Virtuosismo: baseada na incapacidade criativa de seguir os paradigmas canônicos do clássico;- Espelhamento: uma cópia, uma reconstituição de uma cena.;- Emulação de gênero, paródia lúdica: a volta aos procedimentos dos gêneros canônicos;- Apropriação afetiva: resgate de uma cena, um cenário, um personagem, um som, uma música. A obra de Wim Wenders constitui o objeto central de análise para a aplicação experimental desta classificação, com sua pluralidade, configura um conjunto sólido para o estudo das questões em torno do maneirismo no cinema. Além de citado no artigo de Bergala, a sua obra navega do cinema novo alemão ao contemporâneo em peças de ficção e não ficção. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.
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