ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A indústria da animação e o estilo ortodoxo |
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Autor | Marcos Buccini Pio Ribeiro |
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Resumo Expandido | Esta pesquisa, a partir de uma abordagem histórica, traça a trajetória do estilo 'ortodoxo' do cinema de animação industrial, desde os pioneiros, como John R. Bray, os Irmãos Fleischer, passando por Walt Disney, até os dias atuais. Observamos como se dá a universalização de sentimentos, práticas, pensamentos e significados pertencentes aos grupos dominantes e sua 'evolução' dentro da cronologia do cinema animado.
O cinema de animação nasce no início do século XX a partir dos experimentos de artistas individuais. Por haver pouco contato entre eles, o estilo visual era variado e baseava-se no traço pessoal de cada autor. As técnicas eram inventadas e aperfeiçoadas pelos próprios animadores, o que implicava em resultados bastante diversos e originais. Foi um período de experimentação, técnicas se misturavam, materiais eram testados. A animação era um terreno inexplorado, anamórfico ainda, e que trazia mil possibilidades (BECK, 2004). Porém, o cinema de animação parecia ter pouco potencial como um meio eficiente para as necessidades de um mercado tão ágil como o cinema comercial. O entrave estava no modelo de produção individual e experimental, pois o processo era muito lento, muito trabalhoso e muito idiossincrático (HATFIELD, 2004). Seria necessário então mudar toda a lógica da produção, adotando um esquema baseado no fordismo, com hierarquias de funções, especialização do trabalho, padronização de técnicas e criação de materiais e instrumentos que facilitassem a confecção dos filmes. Esta produção industrial do cinema de animação, iniciada nos Estados Unidos, cria uma massificação na linguagem do desenho animado, tornando hegemônico o estilo cartoon. (DENIS, 2010). Em seguida, os longas de Disney estabelecem novas diretrizes que vão além das gags dos cartoons. Formulando, assim, as regras básicas do que seria uma animação 'bem realizada' e sedimentando um estilo rígido para os filmes comerciais, que dura até hoje e que influencia boa parte da produção mundial. Porém, a influência dos grandes estúdios, como Disney, não pode ser vista somente como um fenômeno artístico ou estético, mas também político. Para Aumont, "a política existe no cinema desde que este se desenvolveu em termos industriais, desde que se colocou problemas de relações e comércio internacional (existe um cinema mundial dominante e cinemas dominados) e de identidade cultural" (2006, p. 235). Esta relação de um cinema dominante e dominado possui sua origem no projeto imperialista, no qual nações européias exerciam um controle político, econômico, social e cultural sobre países do 'terceiro mundo'. Época que coincide com os primórdios do cinema (SHOHAT e STAM, 2006). Após a II Guerra, com a decadência do antigo colonialismo, a lógica dominante atravessa o Atlântico e os Estados Unidos surgem como a grande nova potência mundial e os seus valores, como um padrão universal a ser seguido (FEATHERSTONE, 1997). Wells (1998) define o termo 'ortodoxo' para nomear o estilo dominante dentro do cinema de animação, que teria Disney como o principal expoente. Para ele, a Animação Ortodoxa possui, de maneira geral, os seguintes termos e condições estéticas: busca de um alto grau de analogia em relação aos índices perceptivos da imagem e do movimento; narrativa tradicional e linear; disfarce da materialidade; unidade de estilo; continuidade; ausência do artista; valorização do diálogo e sincronia emotiva da música. A partir dos termos da Animação Ortodoxa, de Wells (1998), pudemos identificar que, estilisticamente, o que se entende por hegemônico dentro do contexto do cinema de animação comercial é bastante mutável, apesar destas mudanças acontecerem de forma gradual e esporádica. Notamos que existem fases de experimentação nas quais se estreita a relação com outras formas de cinema animado, como o cinema periférico, de vanguarda e o cinema independente. Por último, observamos um efeito de retroalimentação da Animação Ortodoxa em relação aos próprios cânones da indústria. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas: Papirus, 2006.
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