ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Três mães e alguns assuntos desconfortáveis: as personagens em Mom |
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Autor | Fernanda Farias Friedrich |
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Resumo Expandido | Quando falamos em comédia de situação, popularmente conhecida como sitcom, é comum assimilar a imagem do clássico enlatado norte-americano, cheio de estereótipos, personagens fracos, tramas sem relevância e piadas sem graça. No entanto, algumas séries do gênero tem evoluído ao longo dos anos, atrás de narrativas mais complexas, com personagens e tramas mais densas, buscando aspectos dramáticos para a comicidade. Neste artigo, abordo um seriado com essas características, o sitcom Mom. Trata-se uma série cheia de personagens complexas, com diversos momentos dramáticos. Mom é um exemplo de sitcom que possui uma complexidade maior do que a premissa do gênero carrega. Neste caso particular, além de quebrar diversos preceitos do estilo, Mom enche a tela de personagens femininas mais elaboradas do que o padrão audiovisual. Este empoderamento das personagens mulheres é o ponto principal deste artigo.
Mom trabalha com a comicidade a partir das fragilidades das personagens principais: Christy, na casa dos trinta anos, sua filha Violet, de 17, e sua mãe Bonnie, na casa dos 50 anos. Christy é alcoólatra e no primeiro episódio da série revela em uma reunião dos Alcoólatras Anônimos que decidiu ficar sóbria para tentar retomar seu relacionamento com seus filhos, Violet e Rosco, de oito anos. Conhecemos a rotina da família e percebemos que não há uma figura masculina presente, com Christy educando e (mal) pagando as contas de casa sozinha. A mãe de Christy, Bonnie é introduzida um pouco mais adiante da trama. O relacionamento mãe e filha entre as duas é extremamente tenso. Bonnie, também mãe solteira e alcoólatra, não conseguiu criar a filha muito bem, já que também teve problemas com drogas e dinheiro durante toda a infância e adolescência de Christy. O relacionamento das duas começa a melhorar quando Bonnie se aproxima da neta, Violet, forçando com que Christy reveja suas ações e perdoe a sua mãe, como gostaria de ser perdoada pela filha. Mom se sobressai ao revelar-se uma comédia familiar com o foco no relacionamento entre as mulheres de uma família praticamente sem homens. Rosco, é o único integrante fixo do sexo masculino na família, porém, ele é apenas uma criança e não ganha muita relevância durante a série. Rosco, dentro dos padrões de criação de personagem defendido por especialistas como Robert Mckee e Syd Field está na trama para revelar informações sobre o protagonista , funcionando apenas como um auxílio para compreendermos Christy, Bonnie e até mesmo Violet. Outros personagens masculinos que aparecem como o pai de Rosco, o pai de Christy, envolvimentos amorosos de Christy e o namorado de Violet, são retratados em sua maioria sem seriadade alguma, como coadjuvantes, em papéis de homens fracos, dependentes de mulheres, menos inteligentes ou apenas simplesmente canalhas. Destacando as personagens mulheres, Mom apresenta uma narrativa que funciona de modo oposto a maioria das ficções. Um estudo liderado pela socióloga Stacy Smith da Universidade da California, revelou em 2012 que para cada personagem forte - como Christy – há seis mulheres retratadas como artificiais, dependentes e fracas. Das 11.927 personagens da televisão com falas analisadas, a maioria não tinha um emprego satisfatório e não possuía destaque intelectual/de poder ou voz de comando. O estudo demonstra que as mulheres ainda são retratadas como estereotipadas (donas de casa, mães de filhos, fúteis, etc) e sexualizadadas mais do que como mulheres independentes e relevantes para a sociedade. O presente artigo mostra que Mom contraria a tendência dominante, permitindo o questionamento de situações e da sociedade com apoio em personagens mulheres complexas com problemas palpáveis. Em suma, o diferencial de Mom é o fato de que isso tudo acontece com personagens mulheres e, como é ressaltado no artigo, personagens femininas densas são raras na ficção. |
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Bibliografia | BENSUSAN, Hilan. Observações sobre a libido colonizada: tentando pensar ao largo do patriarcado. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12, n. 1, p.131-155, jan./ abr. 2004. Disponível em: |