ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Melodrama, AK-47 e pó: as narconovelas latino-americanas |
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Autor | Maurício de Bragança |
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Resumo Expandido | Desde os anos 1960, acompanhamos uma redefinição do lugar do político, a partir de uma mudança epistemológica que Stuart Hall (1997) define como a “centralidade da cultura”. A cultura das mídias, as subculturas, a cultura popular e o culto da juventude vieram se assumindo como expressões de forças sociais. Nesse jogo, novas abordagens da cultura traziam à tona temas não contemplados por uma militância cultural tradicional, incluindo na agenda política questões referentes ao desejo, à loucura, ao corpo, ao prazer, ao gênero, ao inconsciente, à etnicidade, às sexualidades, ampliando os focos de produção de subjetividades e reequacionando as discussões identitárias (EAGLETON, 2005).
A cultura passou a se estabelecer como uma arena de denúncia de práticas de dominação, e local em que se manifestava a própria resistência. As novas teorias sobre a cultura refletiam sobre o movimento das ruas, do cotidiano, assim como novos aspectos de subjetividades políticas que articulavam movimento contraculturais às políticas do mercado. Nesta perspectiva, as apropriações culturais de bens simbólicos passam a ganhar dimensões identitárias que caracterizam determinados grupos sociais e subculturas. Em nossas pesquisas acadêmicas vem ganhando destaque, dentre os estudos culturais latino-americanos, um campo de pesquisa interessado na visibilidade das narrativas ligadas ao narcotráfico, que garantem processos de subjetivação específicos e abordam o universo dos crimes relacionados à produção, distribuição, circulação e consumo de drogas narcóticas para além das abordagens tradicionais no registro das políticas jurídicas e médicas de regulação e controle modernos. Os estudos de narco se desenvolvem a partir de uma perspectiva interdisciplinar, incorporando interesses provenientes da literatura, do cinema e audiovisual, da música, da antropologia, da sociologia, da comunicação, dos estudos urbanos e de outras áreas de interesse. Este campo de estudo vem se destacando no interior de fóruns acadêmicos interessados em questões latino-americanas, sobretudo nos Estados Unidos, México e Colômbia, e seu esforço compreende uma problematização das produções culturais e fenômenos sociais ligados ao ambiente do narcotráfico e seu entorno. Nesta comunicação, nossa intenção é apresentar uma leitura, a partir de uma filiação aos estudos de narco, de um fenômeno já estabelecido na programação das televisões latino-americanas e estadunidense, em torno à presença de minisséries e telenovelas ligadas às narrativas de narco. Todos acompanhamos o estrondoso sucesso que a minissérie Breaking Bad, criada e produzida por Vince Gilligan nos Estados Unidos cuja primeira temporada estreou em 2008, teve junto ao público estadunidense e latino-americano. Mas outras inúmeras minisséries ligadas ao universo do narcotráfico ganharam grande destaque e audiência, sobretudo produzidas pela Colômbia ou em co-produção com este país, como Sin tetas no hay paraíso (2006), El señor de los cielos (2013), Rosario Tijeras – amar es más difícil que matar (2010), La reina del sur (2011), Escobar – el patrón del mal (2012), Las muñecas de la mafia (2009), Correo de inocentes (2011), entre outras. Aqui pretendemos apresentar este repertório das narconovelas a partir da compreensão do atual potencial simbólico da narcocultura na América Latina. Pensamos a narcocultura como resultado do capitalismo, não apenas econômico, mas cultural, social e simbólico que funciona como uma porta de entrada desse popular contemporâneo latino-americano para a modernidade, no qual esse narco atua como uma espécie de passaporte para o mercado onde se inventa um novo popular latino-americano com feições globalizadas. Como diz Omar Rincón (2013), a respeito do narco na cultura colombiana (mas que poderia se estender para a América Latina como um todo): “o narco não é somente um tráfico ou um negócio; é também uma estética, que atravessa e que se imbrica com a cultura e a história da Colômbia”. |
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Bibliografia | ALARCÓN, Cristian. “Es un cliché hablar de una cultura villera ligada al delito”. Entrevista a Cristian Alarcón. Miradas al sur. Año 6, edición número 280, 29 septiembre 2013. Disponível em http://sur.infonews.com/notas/entrevista-cristian-alarcon-periodista-y-escritor-es-un-cliche-hablar-de-una-cultura-villera-l Acesso em: 16 abr 2014.
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