ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Espaço narrativo e pertencimento problemático em O céu de Suely |
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Autor | Rayssa Mykelly de Medeiros Oliveira |
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Resumo Expandido | Lançado em 2006, o filme O céu de Suely (AÏNOUZ) conta a trajetória da protagonista Hermila e sua inusitada decisão de se rifar para conseguir sair da cidade de Iguatu. No desenrolar da trama é possível perceber como as estratégias de construção do espaço ganham importância para o desenvolvimento da ação. A relação de pertencimento problemático que a personagem Hermila estabelece com o espaço narrativo é o principal gatilho para os acontecimentos que se seguem na história.
Em sua obra Lima Barreto e o espaço romanesco (1976), Osman Lins produz uma tipologia do espaço na ficção de suma importância para a compreensão desta categoria narrativa. Embora suas considerações sejam destinadas originalmente à literatura, algumas das noções construídas pelo autor acabam se mostrando extremamente pertinentes para a compreensão da construção do espaço na ficção audiovisual. Utilizando o apoio de teóricos do cinema como Marcel Martin (2003) e André Gaudreault e François Jost (2009), com suas considerações sobre a especificidade do cinema enquanto arte, pretendemos analisar a construção do espaço no filme O céu de Suely, observando as configurações espaciais na obra, com apoio nos autores citados, sobretudo Osman Lins, a fim de entender como essa construção influi nas questões de pertencimento e identificação (HALL, 2006) que motivam a personagem Hermila. Em seu trabalho, Lins (1976) elenca funções que o espaço pode desempenhar assumindo diferentes papéis. O autor identifica entre essas funções três delas, apontadas como as mais comuns, sendo elas caracterizar as personagens, influenciar (propiciando ou até mesmo provocando) as ações das personagens, ou situar as personagens. Na economia narrativa de O céu de Suely é possível identificar vários momentos em que o espaço assume essas funções, crescendo em importância na ação e desempenhando papel fundamental no desenvolvimento do enredo. Outros dois aspectos fundamentais do espaço enquanto categoria narrativa, trazidos por Lins (1976), são a ambientação e a atmosfera. À medida que um autor realiza a ambientação de um espaço, ele está de fato construindo-o, enriquecendo-o, aumentando sua importância na obra. Temos a cidade de Iguatu como o espaço físico onde se desenrola a ação de O céu de Suely. Ao passo que vão se desenhando as casas de pintura descascada, com móveis simples, vamos percebendo que Hermila vive em uma parte pobre da cidade. A efervescência dos pequenos comércios, o trânsito dos motoboys e o movimento de caminhões pelo posto de gasolina nos mostra que, apesar de ser uma cidade pequena e pobre, no interior nordestino, Iguatu tem uma dinâmica urbana. Esse panorama construído nos apresenta uma inovação com relação ao tratamento dado ao Nordeste em grande parte da cinematografia nacional anterior, além de evocar a noção do glocal – a hibridização de uma dinâmica local e de matizes globalizantes – trazida por Canclini (1997), que integra a constituição do espaço narrativo e propicia novos conflitos advindos dessa nova configuração. Outra designação tipificada por Osman Lins é a atmosfera. Noção que muitas vezes se liga ao espaço, mas que não necessariamente emerge dele. De caráter abstrato, segundo Lins, a atmosfera é algo que envolve e penetra, de maneira sutil, as personagens (1976). Procuraremos, então, observar na nossa análise como atmosferas de tensão, opressão e angústia, recorrentes no nosso objeto, emanam do espaço, com o qual a protagonista Hermila mantém uma relação de inadequação e de um pertencimento problemático (HALL, 2006). |
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Bibliografia | CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas - estratégias para entrar e sair da modernidade.Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997.
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