ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Isolamento e resistência nos filmes Las Niñas Quispe e La Sirga |
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Autor | Cristina de Branco |
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Resumo Expandido | Partindo da confluência da Antropologia Visual, dos Estudos fílmicos e dos Estudos latino-americanos e ainda da perspectiva comparatista como via metodológica, a comunicação que se oferece pretende tomar o isolamento como dispositivo alegórico na reflexão sobre dois longa-metragens ficcionais recentes, Las Niñas Quispe (Sebastián Sepúlveda, Chile, 2013) e La Sirga (William Vega, Colômbia, 2012), e também na consideração mais larga sobre o aislamento, o movimento e a resistência como elementos interconectados e transversais na construção de um sentido representacional da latinoamericanidade.
América do Sul, Central e Caribe compõe uma grande região que se adensa internamente e se alarga além fronteiras numa rede imensa que afirma a complexidade de renovadas identidades transregionais, híbridas e mutantes. Cada mobilizado traz em si a sobreposição múltipla de vários traços locais resultando numa composição multidimensional que não afirma apenas uma identidade transregional, mas várias justapostas. Neste sentido, interessa voltar ao local de partida e tentar compreender as dinâmicas que levam a movimentação seguinte, ao encontro e confronto, a antropofagia, ao hibridismo, a mestiçagem, conceitos tão importantes a latinoamericanidade. Assim, ao invés de propor um recorte que diretamente traga traços do deslocamento e do deslocado, pela referência a filmes sobre a viagem, a migração, o exílio, entre outros temas de movimento, propõe-se o isolamento como eixo de consideração estético-narrativa para refletir sobre a mobilidade. Como fenômeno que surge de dinâmicas locais e transregionais difusas, o Cinema não emerge do isolamento, mas sim da conexão variada entre diferentes culturas visuais e de uma negociação constante entre diversos sistemas de poder ideológico e imagético que estimulam, rejeitam, validam, facilitam ou dificultam a criação, produção e circulação da obra fílmica. Ainda assim, várias cinematografias latino-americanas trataram e seguem tratando o isolamento como enfoque dramático e estético. Relembre-se, por exemplo, desde Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, Brasil, 1963) a El coronel no tiene quien le escriba (Arturo Ripstein, México, 1999), baseados em obras literárias, a Espiral (Jorge Perez Solano, México, 2003), Desierto Negro (Gaspar Schauer, Argentina, 2007) e tantíssimos outros filmes que de diferentes maneiras tomaram o isolamento geográfico como determinante narrativo e cinematográfico. Entre eles, estão também os longa-metragens ficcionais Las Niñas Quispe, realizado pelo chileno Sebastián Sepúlveda e estreado em 2013, e La Sirga, dirigido pelo colombiano William Vega, em 2012. Las Niñas Quispe estende-se por entre os elevados secos e ásperos andinos que enquadram as três irmãs transumantes e sua crescente angústia pela desaparição das famílias vizinhas, pela aproximação de um poder desconhecido, dos militares que após o golpe militar de 1974 reorganizavam os vastos territórios trabalhados pela agricultura e pastorícia familiar local. La Sirga enfrenta-se continuamente com a humidade e o nevoeiro de um lago, rodeado por um pântano, aonde vive o tio de Alicia que a acolhe ao reconhecê-la única sobrevivente da sua aldeia queimada pelo conflito entre a guerrilha e os paramilitares colombianos. Ambos têm como protagonistas mulheres isoladas relativamente a algo que acontece fora da cena, a um conflito externo ao espaço e quase ao tempo presente da narrativa. As extensas paisagens dos Andes e do pântano colombiano determinam enquadramentos, cromatismos, sinestesias. As irmãs Quispe decidem resistir ao confronto com os militares chilenos partindo para junto da irmã falecida, Alicia chega e parte em movimentos também de resistência perante a violência dos conflitos na Colômbia. Será, então, a partir destes dois filmes que seguirá a reflexão sobre o isolamento como estética fílmica e narrativa e como dispositivo para pensar-se o movimento como eixos identitários transregionais latino-americanos. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos (1995); A Ponte Clandestina, EDUSP, São Paulo.
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