ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Xica da Silva e o caso das patrulhas ideológicas na crítica de cinema |
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Autor | Margarida Maria Adamatti |
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Resumo Expandido | A crítica de Opinião ao filme Xica da Silva (1976) de Carlos Diegues foi o mote para uma das maiores polêmicas culturais do final da década de setenta entre artistas e intelectuais de esquerda. Em 1978, Carlos Diegues cunhou o termo “patrulhas ideológicas” numa entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, durante o lançamento de Chuvas de verão (1977). O cineasta aplicava o termo para se referir não à polícia ideológica, mas à esquerda radical por tentar submeter à arte aos imperativos políticos. Em pouco tempo, vários artistas e intelectuais aproveitaram o ensejo para se declarar patrulhados, seja pela esquerda ou pela direita, dando vazão a um sentimento comum no período. Assim o termo adquiriu novos significados nos meios de comunicação de massa. Se o debate ampliou os destinatários da patrulha, o alvo de Carlos Diegues eram os críticos da imprensa alternativa que reprovaram Xica da Silva dois anos antes.
Se alguns críticos do jornal Opinião e do jornal Movimento não gostaram do filme, Xica da Silva foi sucesso de público ao contar a história da escrava que usa seus dotes sexuais para se tornar poderosa. Carlos Diegues (2014) escolhia o tema para mostrar a subversão dos oprimidos em relação ao poder. Ele imaginou o enredo de Xica como uma fábula política. A ideia era romper com a melancolia de sua geração e proclamar o projeto de um cinema brasileiro nacional popular. Acreditando ainda na interpretação marxista de ver o imperialismo como inimigo principal, Diegues (2014) compôs os personagens com alguns atores sociais daquele período: o imperialismo brutal no conde português, a burguesia nacionalista e covarde no contratador, as classes médias serviçais no sargento, no tendente e no pároco, o intelectual revolucionário, e por último, o povo em Xica. Para ele, Xica representaria um exercício de preparação para a alegria de viver e para a democracia, no contexto de abertura política. O caso das patrulhas ideológicas teria sido, segundo Marcos Napolitano (2006), um dos últimos debates da esquerda na área cultural daquele período. Nesse sentido, Opinião conseguiu criar uma polêmica que permaneceu por um longo período em pauta na imprensa. O tema surgiu como sintoma de uma crise maior na identidade da intelectualidade, quando a cultura engajada já dava sinais fortes de esgotamento. Há em Opinião a emergência de um debate sobre o papel do intelectual-cineasta em relação à cultura popular. Portanto, a polêmica em torno da crítica de Xica da Silva em Opinião pode ser vista como mais um componente do processo de abertura política. Opinião convidou especialistas de diversas áreas para analisar o filme, compondo um canal importante de discussão. Conseguiu fugir do consenso e gerar uma pluralidade de pontos de vista. O episódio de Xica da Silva em Opinião revela um preâmbulo importante da crítica ao nacional popular que crescia no final dos anos setenta. O objetivo desta comunicação é analisar a recepção da crítica de cinema ao filme Xica da Silva e entender as razões do posicionamento dos colaboradores do semanário, colocando como tema central a discussão da cultura do nacional popular. Esclarecemos quais eram as principais diretrizes editoriais daquele momento, compondo a chamada fase do Jornalismo Cultural Reflexivo. Nosso objetivo é analisar quais os critérios metodológicos que os críticos do jornal puseram em questão, num dos casos mais importantes que refletem a fragmentação da esquerda no final dos anos setenta. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos. O cinema dilacerado. RJ: Alhambra, 1986.
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