ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A recepção de filmes brasileiros premiados no mercado de salas |
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Autor | Karine dos Santos Ruy |
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Resumo Expandido | Com este trabalho pretendemos discutir a recepção de filmes brasileiros contemporâneos a partir da análise de duas esferas distintas, porém interligadas, no âmbito dos espaços de exibição: os indicadores de público nas salas de exibição e a presença dessas produções no circuito de festivais.
Quando cruzamos essas duas questões, verificamos a existência de um descompasso entre a recepção do circuito artístico e do circuito exibidor, lembrando, de alguma forma, a proposta de Bourdieu sobre a existência do campo de produção erudita e o campo da indústria cultural (2005). Em outras palavras, o sucesso de uma obra em mostras e festivais não se reverte, necessariamente, em maior público nas salas de cinema do país. Ao mesmo tempo, não se pode negar que a visibilidade gerada pela presença em tais espaços propiciam acaba por facilitar a distribuição em outras janelas e, sobretudo, em mercados externos, como destaca a produtora Sara Silveira: "Depois que Cinema, Aspirinas e Urubus [Marcelo Gomes, 2005] foi exibido na mostra Un certain regard e recebeu o Prêmio da Educação Nacional do Ministério da Educação da França em Cannes, o filme foi vendido para 22 países, enquanto no Brasil fez só 150 mil espectadores. O Festival te gera mídia espontânea, aquela publicidade que você não teria dinheiro para pagar." (Sara Silveira in Sala de Cinema, 2010). Do ponto de vista de modelo de negócios, os indicadores fornecidos pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) demonstram que a exploração do mercado de salas é insuficiente para garantir a sustentabilidade financeira de uma produção cinematográfica – uma problemática global que se acentua no modelo de filmes de baixo orçamento. Em 2014, por exemplo, o market share do filme nacional foi de 12,2%, contra 87,8% dos filmes estrangeiros. Outro recorte relevante, agora de 2013, mostra que dos 129 longas-metragens brasileiros lançados naquele ano, 94 contabilizaram menos de dez mil espectadores. “Quando se trata de filmes brasileiros, estabeleceu-se uma polarização junto às plateias: ou o filme é um grande sucesso que supera o total de 1 milhão de espectadores, ou terá frequências bastante baixas” (BRAGA, 2010 p. 108). Na cinematografia recente, são inúmeros os filmes que exemplificam a situação assimétrica entre reconhecimento artístico versus público no mercado de salas, mas nessa proposta trazemos como recorte metodológico os títulos selecionados pelo Programa de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro, mecanismo “que concede apoio financeiro às empresas produtoras em razão da premiação ou indicação de longas-metragens brasileiros, de produção independente, em festivais nacionais e internacionais”. Entre 2006, quando foi implementado o programa, e 2012, foram premiados 52 filmes. Desses, exatamente a metade se concentra na faixa de público entre 20 mil e 100 mil espectadores; 15 foram vistos por até 20 mil pessoas, seis por um público entre 100 e 500 mil e quatro por mais de 500 mil pessoas – incluindo aí os fenômenos de bilheteria Tropa de Elite e Tropa de Elite 2. No desenvolvimento deste trabalho pretendemos, então, analisar o significado desses números no âmbito do mercado cinematográfico brasileiro, tentando refletir sobre a aparente dicotomia entre filme de festival (filme de nicho) e consumo cinematográfico no circuito de salas. Apoiaremos-nos, para isso, nas apreensões teóricas fornecidas por estudos sobre indústrias culturais e economia do cinema, além do necessário emprego e cruzamento de dados empíricos. |
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre (2005). A economia das trocas simbólicas. Tradução de Sérgio Miceli. São Paulo: Perspectiva.
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