ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Classicismo e modernidade na tetralogia de Torre Nilsson |
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Autor | Estevão de Pinho Garcia |
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Resumo Expandido | O que é o cinema moderno? Conceito amplo, muitas vezes impreciso e nebuloso, tem sido reinterpretado e debatido sem atingir uma definição que poderíamos classificar como consensual. O termo cinema moderno, em sua origem, nos remete aos escritos de André Bazin, onde aparece como expressão ao longo de suas análises dos filmes do neorrealismo italiano, de Orson Welles, William Wyler e Jean Renoir. No entanto, o uso do termo se estendeu para muito mais além desses realizadores ou dos contextos históricos da produção de seus filmes, se convertendo em instrumental teórico para pensar o surgimento dos Cinemas Novos.
Mas, se o cinema moderno é sobretudo um conceito aplicado ao fenômeno dos Cinemas Novos dos anos 1960, como nomear, dentro do campo da modernidade fílmica, as experiências que surgiram um pouco antes? A historiografia tenta escapar deste problema ao classificar determinados realizadores como “pioneiros” ou “precursores”. Em outras palavras: como elementos de transição entre o antigo e o novo, indispensáveis para a definitiva implantação do “novo”. Assim, entendemos que a explosão dos Cinemas Novos em todas as partes do globo somente foi possível devido ao trabalho desses “pioneiros”, entre eles, os citados diretores analisados por Bazin. Neste sentido, no contexto do cinema argentino, se destaca o nome de Leopoldo Torre Nilsson (1924-1978), considerado o precursor do movimento que teria inaugurado a modernidade cinematográfica no país: o Nuevo Cine Argentino. PARANAGUÁ (2003) não só considera Nilsson como o cineasta chave da transição entre o cinema clássico e o moderno na Argentina como também um dos pioneiros do cinema latino-americano moderno. O historiador elenca o seu filme El secuestrador (1957) e Los olvidados (Luís Buñuel, México, 1950) como os filmes que demarcariam a passagem de um cinema de estúdio típico dos anos 1930, 40 e 50 para o cinema de autor da década de 1960. Em suma, tanto em termos nacionais como continentais Nilsson é tido como um cineasta de transição. Vários fatores corroboram para a disseminação dessa ideia e alguns deles podem ser localizados na própria biografia do realizador. Nilsson nasce em 1924, portanto, pertence à primeira geração de cineastas latino-americanos do pós-guerra. Ainda segundo Paranaguá, essa geração, seria a primeira composta por cineastas intelectuais. Ao contrário das gerações passadas, formadas sobretudo por cineastas autodidatas e intuitivos que aprenderam o ofício exercendo diversas funções técnicas ao longo de anos nos estúdios, essa, obteve a sua formação nos cineclubes, na leitura de revistas especializadas ou nas salas de aula das primeiras escolas de cinema. Nilsson, no entanto, teve as duas formações: a sedimentada pela nova cultura cinematográfica do pós-guerra e a tradicional dos set de filmagem. Filho do cineasta Leopoldo Torre Ríos, desde muito jovem teve acesso aos estúdios portenhos. Trabalhou em diferentes funções até ser assistente de direção de seu pai. Após essa etapa, os estúdios, pelo fato de ser jovem, só o deixaram assumir a direção ao lado de seu pai e assim fez em dupla os seus dois primeiros filmes: El crimen de Oribe (1950) e El Hijo del crack (1953). Segundo ESPAÑA (2005) a vasta carreira de Nilsson pode ser dividida em cinco fases. A etapa que nos interessa é a segunda, marcada pela colaboração com a escritora Beatriz Guido, sua esposa. Composta por sete filmes, enfocaremos somente os que pertencem à tetralogia protagonizada pela atriz Elsa Daniel: Graciela (1955), La caída (1958), La casa del ángel (1956) e La mano em la trampa (1960). Nesse conjunto de filmes onde Nilsson disseca a decadência da alta burguesia portenha estudaremos a coexistência do estilo clássico (composição de personagens, relações de causa e efeito, entre outros) com procedimentos modernos (fragmentação do espaço, estilo indireto livre, entre outros) a fim de verificarmos como o realizador se situava e negociava entre um modelo antigo e um paradigma novo. |
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Bibliografia | COUSELO, Jorge (Org.) Torre Nilsson por Torre Nilsson, Buenos Aires: Fraterna, 1985.
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