ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Experimentação sonora: a construção de sentido através dos foleys |
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Autor | Thais Rodrigues Oliveira |
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Resumo Expandido | O som passou a fazer parte do clima direto na história, influenciando ou realçando os sentimentos que desejam ser passados, e ainda segundo Mitchell
se for argumentado que um filme mudo era uma midia “puramente visual”, precisamos lembrar apenas de um simples fato da história dos filmes- os filmes mudos eram sempre acompanhados de música, fala, e os textos dos filmes tinham frequentemente palavras escritas ou impressas neles. Legendas, subtítulos, acompanhamento musical ou falado fizeram do cinema mudo qualquer coisa, menos “mudo”. (MITCHELL, 2009, p. 168) Os ruídos trouxeram novas perspectivas para a sonorização dos filmes. Com eles, emanam no cinema uma busca pelo realismo, que pode ser observada quando os elementos sonoros são baseados em sons críveis. O comum sempre é que o ruído, unido ao som do filme como um todo, junte-se a ele, povoando toda a narrativa sonora, com uma maior valorização das falas dos personagens. Existem também filmes que valorizam o ruído, como o filme analisado nesse artigo. A importância dos ruídos (foleys) na construção cinematográfica do filme Vermelho como o céu (Rosso come il Cielo,2006), de Cristiano Bortone, é admirável. O filme ganhou quinze prêmios de melhor filme e roteiro em festivais como os de Hamburgo, Sydney, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre outros. O longa-metragem, produzido no ano de 2006, é baseado na história verídica de Mirco Mencacci, renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana. Nascido em uma família humilde e apaixonado pelo cinema, Mirco, garoto de 10 anos aproximadamente, tem sua infância como a de qualquer outra criança até o dia em que sofre um sério acidente. Durante uma distração de seus pais, Mirco tem a curiosidade de brincar com uma arma de fogo, pois assim estaria imitando o herói de um filme que ele e o pai haviam assistido no cinema. A grande revelação de como é construído o Foley no cinema acontece a partir da tentativa de Mirco em realizar sons diversos para simbolizar as estações do ano. Todo som criado em Foley pode ser falso, enganoso, mas dentro da diegese narrativa ganhará outro significado. Mirco e seu amigo Felice começam a captar sons de diferentes objetos para recriar a paisagem sonora que estamos habituados a ouvir. Nossa escuta e percepção sonora também contribuem de forma decisiva na construção da nossa “realidade”, na maneira como nos relacionamos com os objetos, as pessoas, o mundo. Mas, como isso acontece no filme? Quando Mirco resolve criar os sons de chuva, ele descobre em certo momento que, ao bater o dedo indicador de uma das suas mãos na palma da outra mão molhada, ele obtinha um som com a semelhança real ao som que ele ouvia da chuva. Dessa forma é demonstrada a construção de foleys executados no cinema: com um objeto diferente (nesse caso a palma da mão imitando um som de chuva), o artista de foley consegue recriar os mais diversos sons. Dessa forma, Mirco consegue montar uma narrativa sonora com signos audíveis, que remetem aos signos sonoros do cair de uma chuva. Esta composição adquire um significado narrativo áudio-imagético para todos os espectadores que já possuem a experiência de ter escutado uma gota de chuva cair do telhado. Ao analisarmos trechos desse filme podemos começar a esboçar que, analisadas as interações com outros sons, os Foleys podem estabelecer continuidade, ambientar o espaço e tornar imagens inexistentes visíveis na narrativa fílmica. A organização dos ruídos pode criar uma estrutura que conduza todos os eventos narrativos em uma direção desejada, sendo condutor de diversas experiências imagéticas. |
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Bibliografia | - AMENT, Vanessa Theme. The Foley Grail: The Art of Performing Sound for Film, Games, and Animation. Focal Press: California, 2009
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