ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Investimentos espaciais na Tóquio de Enter the Void |
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Autor | Regiane Akemi Ishii |
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Resumo Expandido | A partir de nossa investigação sobre as relações entre cinema e cidade na produção contemporânea realizada em Tóquio, propomos analisar o filme Enter the Void (2009), do diretor franco-argentino Gaspar Noé. Gostaríamos de discutir como o investimento espacial sobre a cidade afeta o desenvolvimento da narrativa, implicando o espectador e revelando o estado dos personagens.
Para a análise, interessa-nos especificamente o pensamento de Giuliana Bruno em Atlas of Emotion – Journeys in Art, Architecture, and Film (2007). No aporte teórico de Bruno, “a necessidade de estabelecer parâmetros espaciais e (des) localizar o corpo (...) é de fato uma obsessão emocional do filme. (...) No começo de um filme, assim como no início da visita de um viajante a uma cidade, o espectador é pensado para confrontar uma emoção geográfica” (2007, p. 271). Assim, gostaríamos de analisar como são estabelecidos os parâmetros espaciais de Enter the Void, por meio da investigação sobre as locações, movimentação de câmera, articulação de pontos de vistas e outras decisões no embate com o espaço urbano. Selecionado para competição no Festival de Cannes em 2009, o filme tem como protagonistas dois irmãos, estrangeiros em Tóquio: o traficante de drogas Oscar (Nathaniel Brown) e a stripper Linda (Paz de la Huerta). Em uma ação da polícia, Oscar é morto. Perseguindo a promessa de proteger sua irmã, o personagem não deixa a cidade. Uma câmera subjetiva assume seu ponto de vista e ganha acesso a outros modos de se movimentar em Tóquio, sobrevoando prédios, atravessando paredes e adentrando ruelas em tons fosforescentes. Enter the Void constrói um submundo estilizado, noturno e com luz artificial, misturado a alucinações de drogas e flashbacks da infância dos irmãos. Vale destacar que as locações reais são combinadas em um complexo jogo de efeitos especiais e tecnologia digital. Assim, a jornada que conecta cinema, cidade e o espectador, convoca tanto a própria arquitetura de Tóquio quanto modos de percorrer espaços que remetem a experiências com outras mídias, como os games e os dispositivos touchscreen. Neste sentido, Enter the Void parece mobilizar vários elementos do imaginário em torno da capital japonesa, fertilizando a discussão sobre a Tóquio contemporânea como uma cidade cinematográfica delineada por uma série de deslocamentos, viagens, migrações e transações impalpáveis. Na filmografia que particularmente nos interessa, formada por títulos de diretores não japoneses que se dedicaram a filmar Tóquio, podemos citar produções como Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003), de Sofia Coppola, Babel (2006), de Alejandro González Iñarritu, e Tokyo! (2008), de Joon-ho Bong, Leos Carax e Michel Gondry, entre outros. Gostaríamos de inserir Enter the Void dentro deste contexto, identificando recorrências e particularidades na sua abordagem da cidade, como uma possibilidade de refletir sobre a relação entre as mudanças no âmbito do cinema e a própria transformação vivida no espaço urbano real. |
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Bibliografia | BRUNO, Giuliana. Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture and Film. Londres: Verso, 2007.
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