ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A MÍNIMA PARTE DO SOM, O FRAME SONORO |
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Autor | Marina Mapurunga de Miranda Ferreira |
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Resumo Expandido | No cinema, temos uma cadência de vinte e quatro frames por segundo (24fps), ou seja, em um segundo vemos vinte e quatro quadros estáticos que ganham movimento entre seus intervalos. Há uma relação similar com o som, porém em números mais elevados. Assim como há a cadência para a imagem visual: frame rate, temos também a cadência para o áudio digital chamada de sample rate, que se dá pela quantidade de amostras (samples) de áudio por segundo -S/s, também conhecida como taxa de amostragem (44.1kHz, 48kHz, etc). No processo de digitalização do áudio, o áudio em forma analógica captado pelo microfone (sinal elétrico) é convertido por meio do conversor A/D (analógico/digital) em códigos numéricos que resultam estas amostras. Miguel Ratton (2007, p. 27) faz uma analogia desse número de amostras a “várias 'fotografias' do sinal em vários momentos.”. Isso corresponderia ao número de frames por segundo no cinema. Para a reprodução deste áudio “numérico”, necessitamos de um conversor D/A (digital/analógico) que busca os códigos numéricos e recria o sinal original.
Se tratando de resolução, pensaríamos em pixels para os frames (visão) e em bits para os samples (audição). A resolução do áudio digital se dá pela quantização ou quantificação que “representa o componente da amplitude do processo de amostragem digital” (HUBER & RUNSTEIN, 2011, p.203). Enquanto a amostragem apresenta um processo horizontal em que se dá pelo período (T), o processo de quantização é vertical, pela amplitude. A quantização vai definir a precisão do valor da amostra através de números binários – bits.Quanto maior a quantização, teremos mais informações, mais precisão e proximidade do áudio original. O áudio digital não recria cem por cento do áudio original, por mais amostras (samples) que sejam criadas há um erro produzido pelo arredondamento dos valores, chamado de erro de quantização. Quanto menor for o número de bits, ou seja, menor quantização, maior será esse erro, haverá mais arredondamentos (deformações) no áudio, tornando-o distorcido em sua recriação do sinal original pelo conversor D/A. A imagem visual se faz no espaço, assim como a imagem sonora se faz no tempo. O tempo assegura a renovação das imagens sonoras. O plano sonoro se faz com a duração. Podemos pausar uma imagem visual e visualizá-la, mas não podemos pausar uma imagem sonora e ouvi-la. Podemos tirar um frame de um filme, anexá-lo a este texto e analisá- lo enquanto o leitor o visualiza. Mas não podemos tirar um sample, anexá-lo neste texto visual e analisá-lo. Graficamente podemos, mas o leitor não o ouvirá. Por mais que queiramos analisar um sample de um áudio de um filme, ouviremos no máximo um estalo, não ouviremos gradações de graves e agudos, como vemos em um frame gradações de escuros e claros. Queremos dizer com isso que um frame pode ser uma parte mínima de sentido, mas um sample não. Não temos uma imagem formada em um único sample, não temos uma imagem sonora nele. Como podemos ter uma imagem sonora? Primeiramente, precisaríamos de um período (T) em que haja sentido para essa imagem sonora, para que ela se forme. Qual seria a mínima parte de sentido do som? Em que duração as ondas sonoras passariam a ser imagem sonora? E para haver um quadro sonoro, é necessário que haja movimento, mudança no período, nessa imagem sonora? Para percebermos a mínima parte DE SENTIDO de um som, teremos que ativar um zoom out, afastarmo-nos um pouco da lupa sonora, deixarmos de lado o sample, e visualizarmos, ou melhor, escutarmos (lembrando que escutar é diferente de ouvir) um plano sonoro. Logo, o frame visual não estaria para o sample, pois as relações entre frame e sample são diferentes. É uma relação de 1:48.000 (de 1 frame para 48.000 samples por segundo). Em um frame temos sentido, em um sample, na obra audiovisual, não temos ainda um sentido. Um sample seria a mínima parte do áudio digital, não do som. Precisamos de um período (T) para que haja sentido sonoro, para que haja um “frame sonoro”. |
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Bibliografia | BERGSON, H. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. 4 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010
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