ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Horror em tempo real e experiência estética no cinema com webcam |
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Autor | Ana Maria Acker |
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Resumo Expandido | A investigação aborda aspectos do uso da webcam nos filmes de horror A História de Collingswood (2002), de Michael Costanza, e Megan is missing (2011), de Michael Goi. A ideia é pensar como a imagem computacional funciona na proposição narrativa e de experiências estéticas e na relação com outros aparatos explorados nas produções.
Os dois filmes são de horror found footage. Na primeira obra, uma jovem está em Collingswood (EUA) para estudar e conversa todas as noites com o namorado por webcam. No entanto, ela descobre que a casa para a qual recém se mudou teria sido habitada por integrantes de uma seita satânica. A estrutura da interface é constantemente representada na tela como forma de enfatizar ao público o instrumento de comunicação entre o casal. Por ser todo em webcam, os planos fixos predominam na obra. Só há mais movimento de câmera quando a personagem Rebecca anda pela casa com o computador conectado ao telefone – nesses momentos percebe-se uma estratégia de pontuar o horror. Ao se mover, a máquina desvenda o desconhecido. Já em Megan is missing duas amigas se falam quase que diariamente via web. Até que uma delas, Megan, conhece um homem pela internet e desaparece após encontrar-se com ele. A outra investiga o caso e também some três semanas depois. Há muitos planos fixos por conta da imagem de computador e o filme explora ainda o uso do celular, câmera de vídeo e de vigilância. A construção narrativa pela webcam potencializa o horror na tela, sobretudo nas cenas em que ouvimos a voz do assassino, que não aparece nas conversas com Megan, apenas na câmera de vigilância, preenchendo a trama por meio de uma imagerie virtual (VIRILIO, 2002). Paul Virilio (2002) problematiza características distintas entre as imagens da fotografia e do cinema em relação às geradas pela síntese digital. A lógica dialética na visualidade cinematográfica é conhecida, enquanto que as possibilidades da lógica paradoxal da imagem numérica permanecem um mistério. O autor destaca que a virtualidade, “o paradoxo lógico é finalmente o desta imagem em tempo real que domina a coisa representada, este tempo que a partir de então se impõe ao espaço real” (VIRILIO, 2002, p. 91). Máquinas de percepção sintética se expandem, observa Virilio, e superam nossa capacidade visual, subvertendo a noção de realidade. Se pensarmos nas obras em questão nesta proposta mais do que superar é possível enfrentar o desafio de competências perceptivas diferenciadas diante da imagem computacional. Ao empreender uma arqueologia de artefatos técnicos, Siegfried Zielinski argumenta que “os mundos midiáticos que precisam de eletricidade como energia são sinônimos de tempo rítmico artificialmente criado e processado” (ZIELINSKI, 2006, p. 299). Tempo artificial é algo da gênese cinematográfica desde sempre; o que muda nos filmes de webcam é o modo como esse tempo se apresenta na narrativa e de que maneira ele empreende determinadas experiências estéticas. A lógica paradoxal observada por Virilio (2002) e o tempo artificial apontado por Zielinski (2006) auxiliam na análise desse horror “ao vivo”, online, presente nos dois filmes. Partimos do pressuposto de que a constituição do cinema em “tempo real” causa um estranhamento que em determinados momentos contribui para exacerbar o medo, enquanto que em outros sugere um distanciamento ao espectador. A conversa pelo computador gera certo desconforto no começo de A História de Collingswood, porém se torna naturalizada ao longo da trama. A condição da proximidade / separação dos personagens pela internet é retomada para o público nos instantes mais tensos. Em Megan is missing é a conexão entre as imagens da webcam com as da câmera de vigilância que evidencia a ruptura incômoda do tempo que se repete e reitera o medo, o perigo. Assim, é necessário tensionar a concepção de tempo no cinema diante de produções que provocam experiências múltiplas por meio de um amálgama de artefatos, modos de ver e sentir o horror. |
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Bibliografia | HUTCHINGS, Peter. The Horror film. London: Routledge, 2004.
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