ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Design político do mundo de Game of Thrones |
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Autor | João Carlos Massarolo |
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Coautor | Dario de Souza Mesquita Júnior |
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Resumo Expandido | Aberturas de séries de TV são pequenos filmes expandidos que proporcionam ao telespectador experiências imersivas nos mundos codificados pelas séries - capazes de conter em si mesmos todo o sistema de símbolos do universo narrativo em contínua expansão. Em Game of Thrones (HBO, 2011-), produzida por David Benioff e D. B. Weiss, a abertura apresenta um mapa que explora o design do programa, mas além de demarcar a identidade visual, o mapa registra as dinâmicas de poder contidas na série. O telespectador é conduzido pelos vastos mundos de uma narrativa épica, na qual sete reinos lutam nos continentes de Westeros e Estos, para conquistar o Trono de Ferro - símbolo máximo de poder no Reinado, conforme os cincos volumes publicados (de setes previstos) de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin. São relatos de uma sociedade e Estado sob o domínio da máquina social primitiva (DELEUZE; GUATTARI, 2010), capaz de codificar as relações de poder, os corpos e a própria terra. As disputas entre os reinos ignora por completo as regras de convivência entre múltiplos poderes da sociedade moderna, predominando a ineficiência do Estado, sua incapacidade para lidar com problemas sociais e o despreparo como unidade administrativa, motivo de desconfiança do povo, o que fragiliza a governança, sempre provisória e carente de legitimidade. Para Foucault (2012), o poder estrutura a sociedade e a mantém organizada por meio de um conjunto de poderes menores exercidos continuamente no seu interior. Neste sentido, a série não é uma narrativa libertária, apesar de mostrar a sociedade como um campo de batalha em meio a relatos das estratégias das elites que para enganar o povo, inventam 'narrativas' sobre criaturas invasoras que vivem do outro lado das muralhas, ao norte de Westeros- onde o inverno nunca acaba. Enquanto isso, a nobreza queima e saqueia plantações e mata seus súditos, visando apenas a sua perpetuação no poder. No filme expandido da abertura, a máquina social primitiva conduz o olhar do espectador por sobre o mapa do mundo de Westeros movido por engrenagens que marcam os antigos e os novos territórios, assim como as novas conquistas que são acrescentadas à geografia desse mundo à cada episódio – mudanças codificadas e representadas conforme os fluxos de poderes moldam a paisagem. A sequência de abertura de Game of Thrones não apenas cumpre um papel de organização do fluxo narrativo, comum em outros seriados, mas é capaz de encapsular de forma orgânica as preocupações temáticas da série pela materialidade do design (PICARELLI, 2011), através de formas icônicas que narram as transformações geopolíticas ocorridas entre os episódios - um narrador onipresente e imparcial que conduz o público pelo mundo ficcional. Nesta apresentação, pretende-se discutir a função do narrador no mundo codificado e expandido do filme de abertura. Busca-se assim, identificar o papel do design na construção das relações de poder onde não há personagem principal ou um reino como foco narrativo. Deste modo, as terras do mundo criado demarcam as relações de poder de Westeros e o mapa representa o design político deste mundo. Estudar o design político é importante para compreender a dinâmica das relações e as redes políticas que são feitas e refeitas a cada conflito, pois é por meio dele que se dá a materialidade “ao poder, as condições de controle, e as formas controvertidas de vida, o caráter da prática do design é inerentemente político" (KIEM, 2011, p. 7).
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles; GUATTARI, FÉLIX. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 2010.
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