ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Efeitos visuais e erotismo no cinema: questões ao exibir o explícito |
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Autor | Roberto Tietzmann |
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Coautor | Carlos Gerbase |
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Resumo Expandido | Efeitos visuais estiveram presentes no cinema desde seus primeiros anos. Estes recursos se caracterizaram por criar imagens que seriam difíceis, muito caras, muito perigosas ou inviáveis de produzir por outros meios. Nos conceitos sobre efeitos visuais presentes em Aumont&Marie (2006), Fielding (1985), Goulekas (2001), Katz (1998), Mitchell (2004), Netzley (2000), Pinteau (2004), Rickitt (2000), Sawicki (2007), Wilkie (1996) é constante a ideia de que estes efeitos criam imagens que substituem as captadas diretamente por uma câmera, através de técnicas executadas no próprio set ou na pós-produção.
Embora seja senso comum apontar a presença de tais recursos em filmes de fantasia ou ficção científica, nesta comunicação problematizamos o uso contemporâneo dos efeitos visuais na produção de imagens de sexo explícito em filmes que se situam fora do gênero pornográfico. A semente desta comunicação partiu de uma declaração das atrizes do filme Azul é a cor mais quente (Abdellatif Kechiche, 2013) em que as protagonistas afirmaram ter usado em cena próteses vaginais modeladas a partir de seus próprios órgãos genitais. Isto despertou a curiosidade a respeito da necessidade de simular a intimidade física utilizando recursos técnicos: o que está envolvido neste jogo de esconder a nudez real do elenco, em especial nas cenas de sexo, e simulá-la artificialmente? Os filmes que escolhemos como objeto são Irreversível (Gaspar Noé, 2002), O Anticristo (Lars Von Trier, 2009), Ninfomaníaca (Lars Von Trier, 2013) e Azul é a cor mais quente (Abdellatif Kechiche, 2013). Em paralelo a estes há outros filmes que ficaram de fora da amostra principal, mas que incluem cenas explícitas no cinema recente, como Baise-Moi (Virginie Despentes, Coralie Trinh Thi, 2000), O pornógrafo (Bertrand Bonello, 2001), Intimidade (Patrice Chéreau, 2001), Nove canções (Michael Winterbottom, 2005) e Brown Bunny (Vincent Gallo, 2003). Nas produções do segundo grupo, atores e atrizes concordaram em atuar em cenas de nudez e relação sexual. Comparando os dois grupos de filmes, constatamos que a utilização de elenco que originalmente trabalha em filmes de sexo explícito acontece de duas maneiras. No primeiro grupo, funcionam como dublês de corpos, substituindo os atores “normais” em alguns planos (o que acontece em O Anticristo e em Ninfomaníaca). No segundo grupo, são escalados como parte do elenco, legitimados pela presença de seu rosto e a inclusão nos créditos (o que acontece em O pornógrafo e Baise-Moi). Quando atores que não trabalham na indústria pornográfica aceitam fazer cenas explícitas sem o uso de feitos visuais o filme imediatamente agrega um status escandaloso criado e alimentado pela mídia (como em Intimidade, Nove canções e Brown Bunny). O “escândalo” cresce quando o ator ou atriz tem uma carreira consolidada. Os efeitos visuais podem transformar cenas não explícitas em explícitas, como em Irreversível, em que um pênis digital é acrescentado a um ator numa cena de estupro. Nesse caso, o escandaloso é transformado em “proeza técnica” e gera produtos de divulgação como longas explicações da equipe de efeitos visuais no making-of do filme em seu lançamento em vídeo doméstico. Em dois filmes do primeiro grupo, Ninfomaníaca e Azul é a cor mais quente, as atrizes declararam usar próteses vaginais, de modo a não haver contato direto entre seus órgãos sexuais com os dos parceiros da cena explícita. Esta é uma solução que, aparentemente, contribui para manter uma certa “dignidade” das atrizes, mas só funciona se elas mesmas, ou a divulgação do filme, informarem o truque para os espectadores. Em comum nos dois grupos de filmes está a ideia de que uma cena de sexo explícito pode ser importante, narrativa e dramaticamente, o que era negado no cinema não pornográfico até o final do século 20. Questões morais, estéticas e comerciais estão envolvidas nesta mudança, onde os efeitos visuais mais uma vez se situam como ferramentas da explicitação da visão. |
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Bibliografia | AUMONT, J.; MARIE, M. Dicionário técnico e crítico de cinema (segunda edição). Campinas : Papyrus Editora, 2006.
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