ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Cinema e pintura: o modernismo combativo de Peter Watkins |
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Autor | Marcos Fabris |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende identificar e explorar certas afinidades eletivas verificadas entre cinema e artes plásticas, tendo como objeto de estudo o filme Edvard Munch, de 1976, de Peter Watkins. Em seu décimo segundo filme, concebido originalmente como uma mini-série co-produzida pelas televisões estatais norueguesas e suecas, a ser exibida em três partes, o cineasta investiga os parentescos formais entre a pintura moderna europeia e o fazer cinematográfico contemporâneo. A pintura de Munch será um “farol” para suas reflexões sobre o que considera ser a tarefa do fazer artístico consequente num cenário de crise global. Nestes termos, Watkins recolherá e analisará a “matéria Munch”, ou seja: as evoluções estéticas verificadas na obra do pintor norueguês, a voga Simbolista em Paris no mesmo período (Puvis de Chavanne; Odilon Redon), a utilização inovadora do ferro e as novíssimas possibilidades no universo da arquitetura, o nascimento da fotografia e suas potencialidades revolucionárias, o Naturalismo na arte norueguesa (Christian Krohg; Fritz Thaulow), o círculo literário mais avançado à época (Ibsen; Tchekhov; Strindberg), a tradição engajada do desenho e caricatura (Rops) e a produção Neo-Impressionista (Seurat) que culminaria no Expressionismo (Rodin; Gauguin; Van Gogh; Kokoshka – e o próprio Munch). Watkins, no entanto, não se limita à mera datação ou à comparação estilística de cunho formalista – um display “erudito” de períodos, gênios ou obras consagradas da História da Arte. Ao resgatar as formas caras ao modernismo mais combativo, que a comunicação tratará de analisar, o cineasta representa o universo do trabalho, da arte, da família e da sociedade, interligando tais esferas para enquadrá-las criticamente – em termos cinematográficos, estéticos e políticos.
São as proposições e soluções estéticas, articuladas cinematograficamente por um Watkins consciente da tradição artística na qual pretende se inserir, que põem em xeque uma série de categorias crítico-avaliativas caras ao cinema francamente comercial, incluindo: a definição categórica de gênero (drama; documentário), a impossibilidade de comunicação com formas artísticas “superadas”, a relação direta de causalidades e as regras prescritivas dos usos do campo contra campo. Com Edvard Munch, Watkins pretende mapear uma tradição, explicitar a existência de uma “família artística expandida” e dar notícia de projetos interrompidos e/ou promessas não cumpridas. A moeda forte do modernismo europeu será sua arma para sugerir uma nova – e mais produtiva – relação entre espectadores, autores e produtores. |
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Bibliografia | ARGAN, G. C. A arte moderna na Europa – de Hogarth a Picasso. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
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