ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A trilogia de curtas documentários de Gerson Tavares (1959-1960) |
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Autor | Rafael de Luna Freire |
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Resumo Expandido | O nome do cineasta fluminense Gerson Tavares (1926-) está ausente da maioria dos estudos panorâmicos sobre a história do cinema brasileiro. Diretor de diversos curtas-metragens e de dois longas-metragens, além de proprietário de uma importante empresa de locação de equipamentos de cinema (Verona Filmes), sua carreira é objeto do projeto “Resgate da obra cinematográfica de Gerson Tavares”. Além da restauração do longa-metragem ficcional “Antes, o verão” (1968), o projeto inclui a digitalização e lançamento em DVD de sete de seus curtas-metragens documentários realizados ao longo de mais de vinte anos. Dentre eles, inclui-se a trilogia de curtas dirigida por Gerson Tavares entre 1959 e 1960: os filmes “O grande rio”, “Arte no Brasil de hoje” e “Brasília, capital do século”.
Gerson Tavares teve formação em pintura na Escola Nacional de Belas Artes e descobriu o cinema na Europa, para onde partiu em 1953 com uma bolsa de estudos do governo brasileiro. Entre 1956 e 1958 estudou no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma, onde foi colega de Trigueirinho Neto e Cezar Mêmolo. Ao retornar ao Brasil, fundou com Sergio Montagna e Joaquim Pedro de Andrade a Saga Filmes, através da qual dirigiu o institucional “A Petrobrás prepara seu pessoal técnico” (1958). Em seguida, Gerson foi procurado por um amigo italiano, o fotógrafo Gianpaolo Santini, com a ideia de realizar três filmes que mostrassem o Brasil do passado, do presente e do futuro, especialmente para as plateias estrangeiras. Disposto a dirigir os três filmes, Gerson rompeu a sociedade na Saga Filmes e associou-se ao produtor Ruy Pereira da Silva. “Arte no Brasil de hoje” aborda a obra de artistas brasileiros modernos em plena atuação – Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Cândido Portinari, Burle Marx e Bruno Giorgi –, dedicando-se a mostrar a originalidade e o talento de nomes que ajudavam a dar visibilidade internacional à arte brasileira no final da década de 1950. Era o Brasil do presente que ingressava na vanguarda da arte mundial. “Brasília, capital do século” documenta a impressionante construção da nova capital brasileira no planalto central. Criada do nada, num esforço de engenharia e numa ousadia de arquitetura, assemelhava-se a um cenário de ficção científica e projetava o Brasil como uma nação do futuro. O mais notável dos três, porém, é “O grande rio”, que acompanha uma viagem de barco pelo Rio São Francisco, cruzando o nordeste brasileiro. Ali, mostrando a pobreza, as festas populares, os modos de vida tradicionais das populações ribeirinhas, estava o Brasil do passado. Focando na expressão mais arcaica de um país tido como subdesenvolvido, e flagrando tanto a desigualdade social como a riqueza da cultura popular, o filme se aproxima de outros curtas-metragens contemporâneos como “Arraial do Cabo” (Mário Carneiro e Paulo Cezar Saraceni, 1960) e “Aruanda” (Linduarte Noronha, 1960). A representação da estagnação, traduzida pela metáfora do eterno correr do rio e do girar da roda do barco à vapor, alia o lirismo poético à denúncia realista da miséria. “O grande rio” ganhou repercussão ao receber a Medalha de Ouro do I Festival de Cine Documental y Cortometraje de Bilbao em 1959. Por um lado, isso colaborou para o filme ser alinhado à premiada safra então recente de curtas-metragens documentários que revelavam um novo país nas telas dos cinemas. Por outro lado, Gerson, embora identificado com a “bossa nova” – grupo de realizadores entre 30 e 35 anos em 1960 –, não foi absorvido pela “bossa novíssima”, isto é, por jovens cineastas estreantes com idade entre os vinte e trinta anos que formariam o núcleo do Cinema Novo. Além disso, filmado em ferraniacolor, a trilogia de Gerson afastava-se da absoluta precariedade de filmes como "Aruanda" e "Arraial do Cabo". Por esses e muitos outros motivos que pretendemos discutir, “O grande rio” foi esquecido e é praticamente desconhecido mesmo dos estudioso. Esta comunicação é um primeiro passo para reverter essa lacuna |
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Bibliografia | ARAÚJO, Luciana Corrêa de. Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos. São Paulo: Alameda, 2013.
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