ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A dama do lotação, Belle de jour e Belle toujours: estudo intertextual |
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Autor | FABIANE RENATA BORSATO |
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Resumo Expandido | A prática intertextual transforma o outro texto ao realizar deslocamentos para um novo contexto relacional. Os textos formam um sistema intertextual que compreende fronteiras e integrações. No caso do filme Belle toujours (2006), de Manoel de Oliveira, é claramente discernível o texto fílmico de referência, tanto pela proximidade paratextual com Belle de jour (1967), de Luis Buñuel, expressa pelo título, quanto pela presença das personagens Sèverine e Husson e da personagem Mathilde, esta última somente citada, mas ausente da diegese.
Interessa a esta comunicação analisar as relações intertextuais presentes no filme Belle toujours, de Manoel de Oliveira, sendo a obra de Buñuel, Belle de jour, o outro texto transformado e ainda compreender a intertextualidade com o conto A dama do lotação, de Nelson Rodrigues, suscitada pela leitura subjetiva dos filmes. Genette, em Palimpsestes (1982), afirma que intertextualidade é a “manière sans doute restrictive, par une relation de coprésence entre deux ou plusieurs textes, c´est-à-dire, eidétiquement et le plus souvent, par la presénce effective d´un texte dans un autre.” (GENETTE, 1982, p. 8). Rifaterre analisa o intertexto do ponto de vista da leitura, podendo este ser de ordem explícita ou estabelecido pelo leitor em suas associações particulares. Nesse caso, o conto A dama do lotação (1951-61), de Nelson Rodrigues, apresenta intertexto com a obra de Buñuel e Oliveira. As liberações psicológicas das personagens Solange, Sèverine e Husson e o privilégio à psicologia da personagem dão origem ao drama do eu, em que a presença de um ego central submete as demais personagens a seus conflitos. Na tríade de obras referidas acima, as personagens Solange, Sèverine e Husson apresentam-se como egos centrais de controle da diegese e da reação das demais personagens. Outra questão privilegiada neste estudo intertextual das obras A dama do lotação, Belle de Jour e Belle toujours é a presença da memória no filme de Manoel de Oliveira. Enquanto Nelson Rodrigues e Buñuel promovem o desdobramento de papéis e a liberação das pulsões oníricas e dos desejos mais libidinosos; Manoel de Oliveira faz uso do recurso da memória para suspender a situação dialógica dramática. Husson, narrador e observador em Belle toujours, é o sujeito do tempo presente apreendendo o sujeito do tempo passado via narrativa e memória, atitude própria do narrador do texto épico. Essas considerações promovem a tese de que as personagens centrais do conto e dos filmes apresentam aproximações e dessemelhanças. Solange desdobra-se na figura da dama do lotação, sob a insinuação de que este outro papel é uma necessidade vital de representação que se estenderá ao marido que finge de morto vivo ao descobrir o papel desempenhado pela esposa todas as tardes no lotação. Há no conto de Nelson Rodrigues pistas de que o lotação é palco de atuação de uma alteridade diversa da esposa casta, indício corroborado pela estrutura do conto, dividido em cinco partes que se assemelham a atos do gênero dramático. Sèverine, em Belle de jour, atua/sonha em espaços e com personagens que conjugam ficção e fato, desejo, fantasia e culpa. A atuação de Sèverine no prostíbulo de Madame Anais está fortemente marcada pela liberação das fantasias da personagem entediada e ociosa, recém casada com marido bem sucedido e constantemente ocupado com o trabalho. Além disso, é preciso reconhecer a força desempenhada pelas narrativas sobre prostíbulos e prostituição, contadas por Renée e principalmente Husson, influenciando o imaginário de Sèverine. As três obras apresentam fragmentos de desejo e de imaginação, do real e de outros textos, tornando difusas as fronteiras entre ficção e fato, passado e presente, gêneros e textos. |
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Bibliografia | REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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