ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Homem e animal : a fisiognomonia no cinema |
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Autor | Pedro Maciel Guimaraes Junior |
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Resumo Expandido | Por fisiognomonia entende-se, a grosso modo, o estudo da personalidade a partir dos traços externos do rosto humano ou como se buscar estabelecer a ligação física do corpo às qualidades morais da alma. Ela é base da civilidade, pois a conduta e os modos do homem estão definidos por uma equivalência entre o homem ‘exterior’ visível e um homem ‘interior’ escondido.
Existente desde Aristóteles e Hipócrates, a fisiognomonia se baseia em quatro pilares: a identidade entre temperamento e expressão, sua vertente mais amplamente estudada; a analogia entre homem e animal (quem se parece com uma raposa é uma pessoa esperta); a diferenciação sexual (ao homem de aspecto feminino, falta-lhe virilidade); e a influência do clima. Os textos fundadores da fisiognomonia moderna são o do filósofo e dramaturgo italiano Giovanni Della Porta, Fisionomia Humana (1586) e do pastor suíço Caspar Lavater De la Physiognomonie (1772). Ambos influenciam a ficção literária, a tradição pictórica e teatral até os nossos dias dando as bases de pressupostos de representação e processos de encarnação que vinculam a moral ao físico dos personagens. No teatro, e principalmente no cinema, essa dimensão da fisiognomonia como leitura do rosto (in facie legitur homo, no rosto, lê-se o homem), coloca a face como local nobre da expressão do ator. Para Courtine e Haroche, não é tanto o rosto mas a figura do ator que o coloca no centro da discussão fisiognomônica. A figura seria a parte expressiva do rosto, o local em que o rosto funciona como signo, o que se mostra e se percebe, o que se expressa e o que se esconde, o que se pode reconhecer nela e descrever. “Fora da figura, o rosto escapa, como um enigma”, acrescentam. Para além da expressão do rosto do ator como exteriorização dos sentimentos internos ao personagem, outra dimensão fisiognomônica bastante explorada pelos diretores de cinema é aquela que assimila homem e animal. Tentaremos abordar algumas manifestações visuais dessa assimilação entre corpo humano e características animais. No cinema silencioso soviético e alemão de Eisentein e Murnau, é através da montagem ou de elementos de mise en scène que o corpo do ator adquire prerrogativas animais, sejam físicas ou abstratas. No jogo do ator de cinema clássico, a equivalência entre humano e animal se encontra mais nas escolhas de postura e gestuais dos próprios atores. De Lilian Gish a Cary Grant, alguns dos grandes atores de cinema usam a referência corporal animal para criar figuras de jogo e de encarnação. Já no cinema contemporâneo, encontramos exemplos de volta às origens, quando é através do enquadramento e da iluminação que o corpo ou o rosto dos atores se assimila aos de um animal. Nessa comunicação, mostraremos como diretores e atores pertencentes a esses três momentos (o cinema silencioso, o clássico e o contemporâneo) se utilizam dos preceitos da fisiognomonia para construir personagens e figuras corporais. |
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Bibliografia | AMIEL Vincent et. all (org). Dictionnaire critique de l’acteur – Théâtre et Cinéma. Rennes : PUR, 2014.
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