ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Teorias sobre voz na década de 1970 e cinema contemporâneo |
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Autor | Fernando Morais da Costa |
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Resumo Expandido | Na tentativa de trazer para a discussão circunscrita aos estudos de voz no cinema pressupostos vindos de áreas próximas, examinaremos textos, um deles de forma mais detida, próximos entre si, ao menos no que se refere à época de seus lançamentos. Em 1977, Barthes propõe a metáfora do grão para encontrar particularidades em cada voz. Nesse texto específico, Barthes analisa o canto, a palavra cantada por diferentes vozes. Em 1973, Derrida encontraria uma possível relação entre voz e silêncio, tendo como base teórica a fenomenologia de Husserl.
O texto que mais nos interessa, Listening and voice – Phenomenologies of sound, livro lançado por Don Ihde em 1976, também se ancora, como o título já deixa ver, na fenomenologia, em Husserl, em Heidegger. É a partir de Husserl que Ihde propõe uma filosofia da escuta e da voz. Ihde justifica a escolha da voz como objeto pela, segundo ele, centralidade da palavra falada e de sua escuta para a nossa percepção. A ideia de centralidade e das zonas que lhe são complementares, horizontes, limites dão forma à metodologia a partir da qual o autor cerca seu objeto. Para ele, a palavra falada é um centro possível para o sentido, mas a apreensão desse sentido passa pela complexa personificação dessa voz, pela presença de um corpo, com tudo que ele seja capaz de manifestar. Nesse sentido, se aproxima do que seria desenvolvido de forma extensa por Zumthor, como já apresentamos em comunicação anterior. Para Ihde, a palavra pode parecer o centro do sentido, mas no centro da palavra está o som em si, a respiração mesma. De forma complementar, o silêncio seria para a palavra falada o limite, o horizonte, a extensão possível do sentido. Uma filosofia da escuta deve levar em conta o que está ao mesmo tempo entre as palavras, abaixo e acima delas, o que as circunda. O que nos interessa em Ihde é a possibilidade de transplantar seu modo de pensar a voz e o que está em torno dela para os estudos de cinema. Para dar um exemplo, quando Ihde fala em um aumento do espectro da escuta no século XX, devido às tecnologias que nos permitiram escutar sons e áreas acústicas antes inaudíveis, podemos pensar em uma relação possível com o que chamamos de hiper-realismo sonoro no cinema. Mais importante, quando propõe uma fenomenologia da voz, dentro de uma filosofia da escuta, ele é categórico ao dizer que não a propõe para combater necessariamente um aferível ocularcentrismo no campo da filosofia, mas sim para entender o que se sobrepõe entre a percepção ocular e a percepção auditiva, para analisar quais zonas de intercessão podem existir entre ambas. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. The grain of the voice. In: STERNE, Jonathan (0rg). The sound studies reader. New York: Routledge, 2012.
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