ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Às margens do Douro: um retorno ao princípio do cinema |
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Autor | Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva |
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Resumo Expandido | Manoel de Oliveira é um caso particular da cultura portuguesa contemporânea. Primeiramente pela sua longevidade, mas também – e principalmente – pela importância de sua produção cinematográfica que se inicia em 1931 e avança pelos séculos XX e XXI, passando pela vanguarda, inovando o neorrealismo e culminando em um cinema que se ostenta como arte, na contramão da chamada indústria da cultura. Como singularidade, é possível encontrar na produção oliveiriana uma relação intrínseca entre cinema, teatro e literatura que constrói a estética tão peculiar do cineasta português, consolidada ao longo dos seus 83 anos de trabalho. Desde o inicio dessa produção, Oliveira encara o cinema, em busca de uma unidade total da obra artística capaz de provocar em seu espectador sensações únicas, devido à sua magnitude e plenitude.
Pensando que a história de Manoel de Oliveira se confunde com a história do cinema, rever o início de sua produção parece ser resgatar também o nascimento dessa arte cinematográfica inovadora e progressista. Acompanhar a produção oliveiriana é acompanhar a evolução da arte ao longo dos últimos séculos. Por esse motivo, esta comunicação se propõe a fazer uma análise do primeiro filme do realizador português "Douro, faina fluvial", de 1931. Neste documentário, o espectador conhece a realidade da cidade do Porto, das pessoas que ali vivem e da dinâmica de sua rotina às margens do rio Douro. O documentário tem aproximadamente 21 minutos de duração e consiste na filmagem da vida no porto da cidade: a circulação, o carregamento e descarregamento de barcos, o rio, as pessoas, a ponte de D. Luís e os bairros circundantes. Assim, "Douro" acaba sendo um registro histórico do inicio da década de 1930 e uma relíquia dos primórdios do cinema em Portugal. Entretanto, nem só de registros da realidade se faz "Douro, faina fluvial". É característica do cinema de Manoel de Oliveira transitar entre o real e o ficcional e isso se manifesta já em seu primeiro filme. Há, nessa película de 1931, em meio ao registro das ações e situações cotidianas do Porto, o episódio de um carro de bois que, desgovernado, atropela um rapaz. Sendo assim, a ficção invade a realidade, inserindo no filme documental um episódio ficcional com principio meio e fim. Esse hibridismo é um dos elementos mais importantes na configuração do que José Régio, em artigo publicado na revista Presença, chamou de “poderosa visão de poeta” de Oliveira. Inserido em um momento em que o cinema se mostra entusiasmado com a ideia do progresso,"Douro, faina fluvial" faz parte do chamado ciclo de filmes de vanguarda considerados “sinfonias urbanas”. Nesse sentido, percebe-se que Douro se inspira evidentemente no filme "Berlim, sinfonia de uma capital"(1927), de Walter Ruttman. Ambos fazem uma reflexão sobre seu momento histórico, o progresso e o funcionamento das grandes cidades; mas fazem, acima de tudo, uma reflexão sobre o próprio cinema enquanto instrumento dessa modernidade. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é a análise do primeiro filme do cineasta Manoel de Oliveira, tendo como direcionamento o trânsito entre o real e a ficção que promove a construção de uma estética que se tornaria inovadora ao longo dos anos seguintes. Esse olhar para o passado e a viagem ao princípio do cinema analógico propõem uma reflexão sobre a evolução cinematográfica que parece bastante adequada às discussões acerca da temática “Cinema em redes”. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Dicionário teórico e crítico De cinema/ Jacques Aumont, Michel Marie; Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. Campinas: Papirus, 2003
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