ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O público do cinema em foco |
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Autor | alice dubina trusz |
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Resumo Expandido | A comunicação “O público do cinema em foco: os usos das imagens na construção das práticas e identidades culturais” foi motivada pela identificação de um conjunto expressivo de imagens, originalmente fotográficas, que representam o público espectador cinematográfico porto-alegrense e sua freqüentação a diferentes salas de exibição da cidade, as quais foram reproduzidas na revista local Kodak (1912-1923) entre março de 1913 e abril de 1914.
Tais imagens servirão a diferentes propósitos no corpo da publicação. Inicialmente, elas destinaram-se a preencher uma seção visual de variedades da revista, documentando a prática e divulgando a adesão da população ao cinema. Num segundo momento, elas compuseram anúncios publicitários. No primeiro uso, as fotogravuras honraram a orientação editorial da publicação, evidenciando a capacidade expressiva das imagens e o valor documental e informativo das fotografias para os contemporâneos, fundado no caráter indiciário e realista da sua representação. Já a sua apropriação para fins publicitários explícitos, na forma de anúncios, estaria baseada naquelas mesmas premissas, servindo as imagens para complementar ou endossar os textos promocionais dos exibidores. Tais iniciativas ocorreram em um contexto em que a exibição cinematográfica vivia um processo de afirmação e consolidação enquanto atividade econômica sedentária e opção de lazer regular, que foi perpassado por um esforço de legitimação das salas de cinema como espaços familiares, morais, confortáveis e seguros de exercício cotidiano da experiência cinematográfica. Por essa razão, não foram gratuitos a escolha do público cinematográfico como aspecto a ser privilegiado nas fotografias, nem o posterior reaproveitamento das imagens para fins comerciais. Por meio dos registros visuais do público do cinema no exercício da prática que lhe conferia tal identidade, a revista e os exibidores cinematográficos que foram seus anunciantes objetivaram configurar, divulgar, promover e legitimar uma imagem e uma reputação dessa categoria particular de espectadores, assinalando o seu papel no incremento do cinema. Tratava-se de registrar visualmente uma forma de participação na vida social que, embora concentrasse significativo número de praticantes, se desejava estimular e estender a um público sempre maior, passando por aqueles que já se identificavam e reconheciam entre os retratados ou que ainda deviam se integrar à comunidade em questão, buscando esse pertencimento, reconhecimento e distinção social. Por outro lado, a ênfase na qualidade familiar do público freqüentador e na moralidade e ordem dos espaços de exibição cinematográfica, evidenciados nas fotogravuras e textos dos anúncios, acabariam por expressar o esforço disciplinador e o caráter idealizado das suas representações. Tais aspectos ficam patentes a partir do cotejamento das fotogravuras com os demais conteúdos da revista que fazem referência ao cinema, considerando-se, por exemplo, a questão da presença das mulheres no espaço público e nos cinemas. Enquanto que nas fotogravuras ela foi significativa e incentivadora, em outras seções da revista ela foi criticada e ridicularizada enquanto uma ameaça à manutenção da ordem doméstica patriarcal. Verifica-se, assim, que a definição do caráter do espetáculo cinematográfico em Porto Alegre nesta fase inicial da sedentarização da exibição foi caracterizada por uma tensão, podendo-se afirmar que as fotogravuras do público do cinema veiculadas na Kodak participaram desse processo de forma afirmativa, orientando a construção dos sujeitos, qualificando as relações sociais e retificando os comportamentos. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Penser l’histoire du cinéma autrement. Vingtième Siècle. Revue d’Histoire, Paris, n. 46, p. 65-83, avril-juin, 1995.
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