ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Árido Movie e Manguebeat - Uma História entre Cinema e Música |
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Autor | Samuel Paiva |
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Resumo Expandido | O termo “Árido Movie” foi criado pelo jornalista Amin Stepple em meados dos anos 1990 para designar filmes pernambucanos então realizados no diálogo com o “Manguebeat”, o movimento musical que, articulado em torno de bandas como Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A (cf. NOGUEIRA, 2009, p. 85), confirmava-se com os respectivos discos “Da lama ao caos” e “Samba esquema noise”, ambos de 1994. Algum tempo depois, foi lançado o filme “Baile perfumado” (Paulo Caldas e Lírio Ferreira, 1997), que contava entre os autores da sua trilha sonora justamente com integrantes das referidas bandas, eventualmente atuando também como atores em algumas cenas. Desde então, uma das características recorrentes da produção cinematográfica local diz respeito à sua conexão com a música produzida em Recife e seus arredores, o que pode ser observado em alguns longas metragens - tais como “O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas” (Paulo Caldas, 2000), “Amarelo manga” (Cláudio Assis, 2003), “Árido movie” (Lírio Ferreira, 2006), “Baixio das bestas” (Cláudio Assis, 2006), “Era uma vez eu, Verônica” (Marcelo Gomes, 2012), “Amor, plástico e barulho” (Renata Pinheiro, 2013), “Tatuagem” (Hilton Lacerda, 2013) – além de vários curtas.
Observado tal conjunto, a hipótese a ser verificada nesta comunicação diz respeito à possibilidade de que filmes pernambucanos realizados desde os anos 1990 até mais recentemente procuram intencionalmente ressaltar e invocar o seu caráter pela relação com a música produzida desde o Manguebeat até os seus desdobramentos musicais contemporâneos. Uma história do cinema realizado em Pernambuco nas últimas décadas, portanto, pressupõe a observação da dimensão musical reconhecível em vários filmes. Tal hipótese instiga a questão acerca de um método historiográfico a ser trabalhado na chave da intermidialidade entre cinema e música. Logo, um dos objetivos deste trabalho é investigar possibilidades para a construção de um tal método pautado pela relação do cinema com distintas artes ou mídias e, nesse sentido, são investigadas referências, principalmente Lúcia Nagib e Anne Jerslev (2014, p. xviii), que retomam a ideia de “cinema impuro” (BAZIN, [1951] 2013) para pensar o cinema tanto na relação com outras artes, como em sua habilidade para promover a diversidade cultural. De fato, Nagib e Jerslev colocam em questão um debate que se remete às primeiras décadas do século XX (desde noções de “cinema puro”, por exemplo), mas que repercute até hoje, no caso, na chave da intermidialidade. Elas propõem, então, a possibilidade de que a intermidialidade implicada no cinema impuro possa se constituir enquanto um “método”, na medida em que a premissa de Bazin – “o que é o cinema?” – continua orientando possibilidades de abordagens cinematográficas diversas, inclusive, em termos de perspectivas históricas postas para além de paradigmas estabelecidos como, por exemplo, a distinção entre cinema clássico e moderno ou entre produções centrais e periféricas. Nagib e Jerslev apoiam-se ainda em noções propostas por Irina Rajewsky para afirmarem que o método em questão diz respeito à escolha de objetos (filmes ou outros produtos audiovisuais) que intencionalmente ressaltem e invoquem o seu caráter misto construído na relação com outras artes ou mídias. Isso é o que será aqui investigado, procurando-se reconhecer em alguns dos referidos filmes pernambucanos aspectos musicais de acordo com as noções de “transposição, combinação e referência”, segundo a proposta de compreensão dos fenômenos intermidiáticos afirmada por Rajewsky (2012, p. 58). Tal abordagem, por fim, será cotejada com proposições de Jean-Claude Bernardet (1995, p. 61) em termos de sua defesa de uma metodologia que possa encontrar “linhas de coerência” capazes de percorrer a história do cinema brasileiro, mas superando-se a perspectiva de ciclos regionais ou mesmo nacionais. |
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Bibliografia | BAZIN, André. Pour un cinéma impur – défense de l’adaptation. In: Qu’est-ce que le cinéma? 21ª. ed. Paris: Les Éditions du Cerf, 2013, p. 81-106.
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