ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Rio de Janeiro no cinema: apropriação e construção da imagem na cidade |
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Autor | ludmila ayres machado |
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Resumo Expandido | A pesquisa procura entender os elementos presentes na construção imagética da cinematografia que tem o Rio de Janeiro como cenário fundamental. Seu recorte está no signo maior da desigualdade social e da violência: a favela; assim como na sua realidade geográfica e no contraste com os outros signos da cidade. O projeto analisa os mecanismos de elaboração do discurso visual para o cinema de narração ficcional cujo objetivo é uma imagem naturalista e sugere o termo “direção de arte invisível” para classificar o discurso visual construído. Esse termo expressa o conceito de um cinema que tem na arte um critério importante de verossimilhança que, por fim, leva o espectador a crer que não houve manipulação do espaço filmado.
Rio, 40 graus faz de um passeio pelo Rio de Janeiro o motivo para se repensar a forma como a desigualdade social brasileira era representada no cinema. O filme estrutura sua narrativa através do diálogo entre os espaços da cidade, selecionando e se apropriando dos lugares e do simbolismo de cada um deles. A favela e alguns pontos importantes como o Pão de Açúcar, Copacabana e o Corcovado, servem como locações e também como personagens dessa história. Desde então, muitos filmes se valeram das características geográficas cinematográficas da cidade e do seu conjunto de favelas para discutir a questão social e também a violência na cidade do Rio de Janeiro. Em Cinco vezes Favela, Pedreira de São Diogo se estruturou sobre o eixo vertical entre a pedreira e o Morro da Providência; Couro de Gato trabalhou a relação entre o Morro do Cantagalo e a orla carioca a sua volta. Fábula e Orfeu articulam sua narrativa a partir do Morro da Babilônia. Central do Brasil tem em sua parte inicial o Complexo do Pedregulho, um dos primeiros conjuntos habitacionais do Rio a sofrer um processo de favelização. Dentro desse conjunto de filmes que tem como cenário fundamental os contrastes geográficos e sociais da cidade do Rio de Janeiro, Cidade de Deus foi designado como recorte pela complexidade e variedade de questões propostas. Cidade de Deus constrói de forma imperceptível um único espaço fílmico através de fragmentos de favelas existentes. Filmado em 2001, o filme de Fernando Meirelles trata questões relativas a direção de arte e cenografia de forma muito mais planejada do que o precursor dessa cinematografia, Rio, 40 graus. Cidade de Deus traz um trabalho complexo de construção e elaboração das esferas da arte e o fato de se valer de locações como espaços privilegiados das filmagens não exclui a direção de arte como um dos enunciados que contribuem para a impressão de realidade no filme. Em uma primeira análise, a filmografia selecionada demonstra a intenção de confundir a favela cinematográfica com a favela real da cidade do Rio de Janeiro. Embora a vontade de parecer ter sido filmada na locação crua, sem intervenções, se revele o objetivo maior de todos os filmes, a verdade indicial que vemos na tela transformou-se em uma grande mentira. Essa mentira é o resultado de um diálogo entre a realidade construída já existente no Rio de Janeiro e um longo trabalho de readequação da locação ao roteiro e a um imaginário visual consolidado sobre esse locus. A reviravolta estética inspirada pela montagem de rimas visuais de Rio, 40 graus traz a expressão do diretor no processo de composição das cenas, o que podemos interpretar como a direção de arte nesse filme. Em contraponto a esse sistema de produção fílmica, Cidade de Deus, filmado quase 4 décadas depois, é o resultado do trabalho de uma equipe grande e especializada de artistas e técnicos, que selecionaram e se apropriaram de espaços da cidade para reconstruir a favela-título. Se em um primeiro momento a mediação da câmera pareceu ser a única estratégia de produção da imagem, este estudo procura entender a complexidade oculta no outro lado desse processo. |
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Bibliografia | ANGÉLIL, Marc. HEHL, Rainer (editors). Cidade de Deus - City of God: working with informalized mass housing in Brazil. Idea Books: Amsterdan. 2013.
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