ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Políticas de Identidade e de Gênero em "Fogo" (1996) |
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Autor | Juily Jyotsna Seixas Manghirmalani |
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Resumo Expandido | Ao compreender como a identidade é formulada, dentro de processos assimétricos de poder, este trabalho buscará analisar como os sistemas operantes nas políticas de identidades e de gênero funcionam no filme “Fogo” (1996) de Deepa Mehta.
"Uma leitura não-normativa do filme, expõe como a produção da diferença em produções culturais transnacionais são um local de negociação para o sujeito feminino pós-colonial localizado no nexo instável das políticas de globalização e de modernidade, no estado-nação pós-colonial." (DESAI, 2004, P.174) O “Outro”, como descrito por Homi Bhabha (2013) e Tomaz Tadeu da Silva (2000), é localizado na polaridade mais baixa do binarismo relacionado à identidade como criação social e ao poder. E neste trabalho, será visto como as personagens femininas do filme, em que vivem em um universo social e cultural de falta de direitos, entre eles, os de seus corpos, de suas mentes e de suas vozes. “Fogo” busca romper com a manutenção da tradição patriarcal e heteronormativa hindu ao coloca-la em questionamento de formas complexas e diferentes no filme. Entretanto, esta só se faria possível, principalmente, por ser parte de uma cinematografia de diáspora, com influência e reflexo das mudanças globais do capitalismo, que apresentam dentro do microcosmo da casa, as reformulações do macrocosmo sobre as identidades, gênero e sexualidade, como a busca das mulheres em possuir direitos. Sita é a personagem percussora dos questionamentos abordados em “Fogo”. Ela se apresenta como uma metáfora de mudanças relacionadas ao novo momento econômico instaurado após a independência indiana, na atual Índia neocolonial. O filme se passa na Nova Déli contemporânea, a personagem é a mais nova e recente integrante de uma família regida pela tradição religiosa e cultural hindu. Ela apresenta comportamentos contestadores do que lhe é imposto por ser do gênero feminino e por seguir uma tradição tão engessada em normas e deveres, assunto frequente durante toda esta obra cinematográfica. Outras personagens que também serão analisadas neste trabalho são: Biji: mãe dos homens da casa, é viúva, idosa, muda e assexuada, detentora de toda atenção familiar. Em polaridade com Sita, sua personagem trabalha como metáfora de uma antiga (ou idosa) tradição em questionamento. Radha: é o exemplo de esposa marcada pela tradição e não poder procriar, lhe é negada qualquer forma de satisfação sexual ou de desejo físico, pois seu marido decidiu viver em celibato após descobrir que nunca será pai. Ao conhecer Sita, Radha começa a questionar as diversas imposições sobre ela e seu corpo. E iniciam, ao longo do filme, um relacionamento homoafetivo em busca de afeto e desejo. Julie: Mesmo após o casamento com Sita, Jatin manteve seu relacionamento extraconjugal com a amante de origem chinesa, que, por escolha própria, decidiu não se casar com ele por não querer uma vida de subserviência promulgada pela religião. A relevância para analise desta personagem está na sexualidade de Julie estar “intrinsecamente ligada ao consumo e ao capitalismo” e, também, por não se satisfazer com a “culminação da relação associada ao casamento”. (DESAI, 2004, P.165) O elo extraconjugal dos dois casais se apresentam como práticas não-monogâmicas, porém, por Jatin possuir privilégios patriarcais, o personagem pôde manter seu relacionamento com Julie. Enquanto o relacionamento entre Radha e Sita é visto como “transgressor não somente por ser homossexual, mas por ser entre mulheres, rompendo com a família burguesa [indiana]” . (DESAI, 2004, P.166) “Fogo” tem como característica um cinema e um contexto específico, este artigo buscará trabalhar, de forma introdutória, algumas das questões abordadas neste primeiro filme da “Trilogia dos Elementos”, de Deepa Mehta. |
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Bibliografia | BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
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