ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Bichas e Dândis na Sodoma Recifense |
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Autor | Denilson Lopes Silva |
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Resumo Expandido | Em 2002, publiquei O Homem que amava rapazes e outro ensaios . minha resposta aos estudos LGBTQ nos EUA e qual sua importância na estética e na crítica da arte contemporânea, tal como os acompanhei a partir de meados dos anos 1990. Desde então, os estudos de gênero deixaram de ser centrais na minha pesquisa Mas nos últimos dois anos,. a questão do afeto têm me conduzido a um diálogo maior com os estudos queer ao procurar discutir possibilidades de estar junto hoje. Mas foi, no início de 2014, em artigo no jornal O Globo que Rodrigo Fonseca (http://oglobo.globo.com/cultura/a-forte-safra-nacional-do-cinema-lgbt-10791774) previa o lançamento, no Brasil, de em torno de 20 longas associados à questão LGBT, só no ano passado, o que é surpreendente na história recente da produção brasileira. Seguindo o livro A personagem homossexual no cinema brasileiro de Antonio Moreno , em momentos de maior produção do cinema brasileiro, como na década de 1970, foram produzidos mais de 60 filmes associados à questão LGBT, muitos associados à explosão da pornochanchada. Número que cairia, nos anos 80, para menos de 50 filmes, já marcado pelo declínío da produção cinematográfica que iria culminar, nos anos 90, com a produção de apenas 11 filmes relacionados à questão LGBT. Nos anos 2000, marcados pela retomada da produção estimulada. pelos editais e surgimento do digital, há a recuperação do patamar dos anos 70, algo em torno de 65 filmes produzidos, já de acordo com o catálogo de mostra feito a partir do livro que atualizou os dados..
Para além do número considerável previsto para 2014 também me chamaram atenção a presença de três filmes LGBTQ brasileiros no festival de Berlim e um recorde de inscrição de longas brasileiros no festival Mix de diversidade sexual segundo seus organizadores. Ainda durante todo o ano de 2014, paralelamente aos movimentos sociais associados à Copa do Mundo e as eleições, com o aumento de tensão entre discursos religiosos fundamentalista e militantes LGBT, vários filmes despertaram um debate crítico intenso como Tatuagem de Hilton Lacerda ou Doce Amianto de Guto Parente e Uirá dos Reis, outros também com repercussão de público, como Praia do Futuro de Karim Aïnouz e Hoje eu quero voltar pra casa de Daniel Ribeiro, apenas para mencionar os mais conhecidos. Há ainda toda uma geração de jovens cineastas, vários deles sem ainda realizarem longas metragens, para quem um olhar queer poderia trazer uma forma distinta de compreensão dos afetos contemporâneos. Esta é a minha aposta. Se há uma histórica hegemonia do real, estudar talvez o artifício em suas várias encarnações possa ter algo a nos dizer hoje, especialmente, no que estou preocupados aqui, na articulação entre afeto, artifício e um olhar queer. Foi o conhecido “Notes on Camp” de Susan Sontag ( 1964, 1966) que deu ao camp status intelectuai para um público mais amplo, posteriormente sofrendo uma série de críticas de desdobramento no campo dos estudos LBTQ. De todo modo, a maneira como Sontag, define o camp, não só como prática social, mas sobretudo como sensibilidade, ou como preferimos, como categoria estética ainda interessa. Para Sontag, “ o camp se caracteriza por uma predileção pelo artificial e pelo exagero, por um tipo de esteticismo, uma forma de ver o mundo como um fenômeno estético” (SONTAG, S.: l987,3l8/20). Poderíamos falar como o camp descontrói a opressão e a solidão e cria novos modos de vida desde “Madame Satã” de Karim Ainouz . Mas o que gostaria de me deter são nos trabalhos do coletivo Surto & Deslumbramento, formado sobretudo por estudantes de doutorado ou recém- doutores da Universidade Federal de Pernambuco, especialmente em “Canto de Outono” de André Antônio, inspirado em poema homônimo de Baudelaire e lido no filme. Ele é atravessado pelo camp mas vai além dele, talvez através do dândismo, configurando personagens definidos mais por poses do que por diálogos ou aprofundamento psicológico, em cenários decisivamente artificiais. |
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Bibliografia | BARBOSA,André Antonio. “Os labirintos da frivolidade: cinema contemporâneo e artifício”. Tese de doutorado em andamento. Rio de Janeiro: PÓS-ECO/UFRJ.
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